FUP e Conselho Deliberativo realizam manifestação no Aeroporto de Vitória. Como represália, empresa tenta não embarcar trabalhadores que participaram do ato, mas esbarra na resistência dos sindicatos e é obrigada a negociar
A diretoria e o Conselho Deliberativo da FUP promoveram na quinta, dia 15, no Aeroporto de Vitória (ES), ato em homenagem ao trabalhador William Vasconcelos, 28 anos, morto no dia 4 em acidente na Plataforma P-34. A manifestação fez parte da Semana de Mobilização pela Vida, que cobrou do Sistema Petrobrás mais segurança e mudanças na política de SMS. No dia 2 de setembro, o presidente Lula inaugurou, dali, a primeira extração simbólica do pré-sal. Quando da visita, William estava presente e posou para fotos com o presidente. Feliz, imaginava um futuro promissor para si, sua esposa e a filha de 3 aninhos.
O diretor de saúde da FUP, Simão Zanardi, abriu o ato lembrando que o acidente na plataforma já era previsível e alertou os trabalhadores para cuidarem do maior patrimônio que possuem: a própria vida. Ele relatou brevemente detalhes do acidente e, emocionado, dirigiu-se aos familiares de William para informar que por todo o país ocorreram atos de protesto à empresa e em solidariedade à dor dos familiares. “William era caldeireiro, sua função naquele domingo à noite era tirar 12 parafusos, ele havia tirado 10, faltavam dois quando ocorreu o acidente”, relatou. Dona Edna, tia de William, chorou durante quase todo o ato.
Todos os oradores destacaram a urgência de mudar a política de SMS. O coordenador da FUP, Moraes, finalizou o ato reafirmando que o acidente não foi obra da fatalidade, mas dos erros da política de SMS, e que os gerentes e responsáveis serão acionados judicialmente. “Não aceitamos que a produção do pré-sal seja explorado à custa do sangue de trabalhadores”, afirmou, enfatizando a necessidade do trabalhador exercer o direito de recusa. “Essa é arma fundamental na luta contra as mortes”, concluiu.
FUP entra com notícia crime contra gerentes da Petrobrás
No próprio dia 15, após o ato, dirigentes da FUP protocolaram no Ministério Público, na Delegacia Especializada em Acidentes do Trabalho, do Espírito Santo, e na Capitania dos Portos, documento de três páginas que relata o acidente ocorrido na Plataforma P-34 e pede a investigação e a punição dos responsáveis.
A empresa sempre trata os acidentes como “fatalidade”, mas em vários deles, inclusive neste último, existem elementos para responsabilizar criminalmente gerentes e diretores por homicídio.
A ação encaminhada pela FUP cita nominalmente os gerentes Claudio Nascimento, Francisco Antonio Padilha Barreto, Mauro Coutinho Fernandes, Márcio Félix Carvalho, José Antonio Figueiredo e o diretor da área de exploração e produção, Guilherme Estrela.
Conselho define semana de mobilização e ato dia 23 no Rio de Janeiro
Reunido em Vitória após o ato, o Conselho Deliberativo analisou a intenção da empresa com o não pagamento da antecipação da PLR. Para o Conselho se trata de um dos vários mecanismos que a Petrobrás tem utilizado para jogar sobre as costas dos trabalhadores os efeitos da crise internacional causada pela ganância capitalista.
Em cada local de trabalho é possível ver essa tentativa da empresa: são horas extras feitas e não pagas, suspensão de cursos de segurança e uma série de outras atitudes da Petrobrás, que os trabalhadores não irão aceitar.
Para alertar os trabalhadores e preparar a mobilização, o Conselho definiu uma semana de atividades (cada sindicato define a melhor forma de realizar em sua base) entre os dias 19 e 22 e um ato dia 23 (sexta-feira), no Rio de Janeiro, onde estará ocorrendo a reunião do Conselho de Administração da Petrobrás, com a presença, entre outros, da ministra Dilma Roussef.
Portanto, companheiros, não vamos deixar que em nome de uma crise que não causamos, deixemos a Petrobrás novamente colocar em risco a vida de trabalhadores, com cortes em segurança e pressão para mais produção. O não pagamento da antecipação da PLR, sem debate prévio com os trabalhadores, é um sinal claro de que se não estivermos mobilizados, novos arrochos virão no futuro próximo.
Não parimos essa crise e não vamos embalá-la para aumentar o lucro de acionistas da Petrobrás.
Petrobrás tenta represália, mas esbarra na resistência dos trabalhadores
Desde o início do ato, dirigentes da FUP alertaram a empresa para não liberar o embarque para a Plataforma sem os trabalhadores que participavam do ato. Fazendo ouvidos moucos e procurando se confrontar com as entidades sindicais, representantes da empresa autorizaram a partida do helicóptero sem a presença de alguns companheiros que participavam do ato.
Imediatamente após o final da manifestação, os dirigentes ocuparam o saguão da Petrobrás no aeroporto de Vitória e exigiram o embarque daqueles trabalhadores. Por cerca de duas horas o saguão foi ocupado pacificamente pelos petroleiros, enquanto a direção da FUP negociava com a gerência da Plataforma alternativas para embarcar os trabalhadores. O coordenador Eliseu alegou problemas burocráticos para embarcar os trabalhadores, no que foi imediatamente confrontado. “Quando é do interesse da Petrobrás, muda-se todo mundo, a qualquer hora, sem qualquer aviso”, questionou um dos trabalhadores.
Ao final das negociações, o gerente geral da P-34, Barreto, se comprometeu a embarcar imediatamente os trabalhadores, colocando fim à provocação da Petrobrás, que quis responder com truculência a um ato em favor da vida.