Lucineide Varjão*
Em comum entre quase todas as ameaças, as medidas e os anúncios de Donald Trump, estão os valores do nacionalismo exacerbado, sobre o qual forte luz tem sido lançada nos últimos meses, dada a relevância econômica e geopolítica dos Estados Unidos, mas que já vem em franco avanço, mundo afora, nos últimos anos – basta refletirmos sobre os discursos utilizados para justificar a atrocidade do genocídio na Faixa de Gaza, a guerra Rússia x Ucrânia, as violações aos direitos humanos na Hungria e a crescente ameaça da ultradireita em países da Europa Ocidental, sempre tendo como as principais vítimas crianças, mulheres e idosos.
O nacionalismo, vale lembrar, foi pilar estruturante de ideologias que promoveram o terror em escala global, culminando nas duas Grandes Guerras do Século XX.
“A história se repete como tragédia”, disse o alemão: os nacionalistas contemporâneos não parecem limitar suas pretensões apenas a relações comerciais, o que, por si, já será brutalmente cruel com as trabalhadoras e os trabalhadores mais pobres, vítimas da instabilidade dos mercados e da consequente variação de preços.
Entre as motivações de Trump e seus semelhantes, estão a xenofobia traduzida em perseguição e ódio a migrantes, o racismo, a intolerância religiosa, e a aversão a qualquer tipo de diversidade e a políticas de equidade.
Nas últimas semanas, nos deparamos com algumas reações contundentes. Especificamente na América Latina, as presidências da Colômbia e do México se destacaram. A relação entre as duas maiores potências – Estados Unidos e China – se acirram…
Fica claro que o isolamento global ao qual Trump pode submeter os Estados Unidos é a maior ferramenta de resistência contra seus arroubos… e essa reação só se faz possível por meio da solidariedade internacional, do fortalecimento das relações multilaterais e da atuação estratégica em blocos como o BRICS e o Mercosul – a despeito dos devaneios de Javier Milei.
E como a classe trabalhadora organizada pode atuar nesse sentido?
O senso de urgência é evidente. Canetadas de Trump já resultaram na suspensão de projetos de fortalecimento sindical no Brasil e em outros países da região, financiados por organizações norte-americanas, com ênfase na formação e na qualificação da atuação de dirigentes.
Precisamos pressionar os governos minimamente comprometidos com pautas incompatíveis com o nacionalismo radical… e isso não será feito apenas com aplausos indiscriminados, ou com o reforço a ações que nivelam o debate político a estratégias rasteiras da extrema direita brasileira, que tem sido mais eficiente na capacidade de pautar o debate público, levando o campo progressista a estar constantemente reagindo.
O momento – de temor generalizado – exige coragem, comprometimento e mobilização. A IndustriALL Global Union, que representa sindicatos dos ramos metalúrgico, têxtil e químico em 140 países, tem se dedicado a promover o intercâmbio e a articulação regional das trabalhadoras e dos trabalhadores na América Latina e Caribe, e segue à disposição de suas entidades afiliadas para fortalecer a interlocução necessária para os grandes e complexos desafios que se apresentam.
Lucineide Varjão*
*Vice-Presidenta da IndustriALL Global Union | América Latina e Caribe
Secretária de Relações Internacional da CNQ-CUT
Dirigente do Sindicato dos Químicos de São Paulo