Tico Santa Cruz*
Trata-se de um momento tão sinistro que, até diante da óbvia violência, muitas pessoas não perceberam que estão sendo enganadas. É como se fosse um pesadelo, em que a maioria dos personagens foram hipnotizados e se tornaram zumbis. Como se a gente estivesse em um filme de terror. Como se quisesse gritar e o grito fosse apenas pra dentro do pulmão.
Aqueles que movimentaram as peças do xadrez e aplicaram o golpe final sabem como o tabuleiro funciona. Colocaram os “peões” de camisa verde e amarela na linha de frente gritando “não à corrupção”.
Usaram suas “torres” para transmitir, através da TV, do rádio e revistas, suas notícias seletivas, seus roteiros que impulsionavam os peões ao ataque.
Pegaram seus “cavalos” e “galoparam” nas mesas da presidência das casas legislativas, sabotando “em nome de Deus e das nossas famílias”. Foram pouco a pouco derrubando o que restava da confiança nas instituições.
Os “bispos” vestidos de capa preta se fizeram de cegos em nome da Justiça e permitiram que um “rei” com contas na Suíça, réu em processos de corrupção, conduzisse todas as peças ao xeque-mate. Por fim colocaram um conspirador e traidor travestido da peça mais importante nesse jogo de xadrez, a rainha. Ele agora conduzirá uma nação anestesiada pelo ódio cego.
O outro lado do tabuleiro tem responsabilidade também. Não soube se comunicar. Demorou a reagir. Deixou seus “peões” (o povo) desamparados quando precisavam ser protegidos no momento da crise.
Será preciso alguns anos até que todos os espectadores, que não se interessaram pelo jogo ou não levantaram a voz para impedir essa vitória forjada, percebam que, nessa nova partida que começou, eles não serão poupados.
O melhor a fazer agora é organizar novamente as peças no tabuleiro e partir para uma nova estratégia. Precisamos abafar qualquer tentativa de retirar os direitos conquistados. Pra isso será necessário inteligência, organização e poder de reação. E tem que começar agora.
*Músico, compositor e escritor.
[Publicado originalmente no jornal Brasil de Fato, aqui]