Terceirização e a escravidão do vinho

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Yuri Costa Moraes da Silva*

Em uma quarta-feira de cinzas, mais de 150 trabalhadores foram liberados das condições análogas à escravidão, na serra gaúcha, região conhecida pela produção de vinhos. A tenebrosa notícia só piora conforme as mídias vão dando mais informações. Sem citar as vinícolas envolvidas – o que é estranho – esses trabalhadores foram aliciados ainda na Bahia para trabalhar no período de colheita, com promessas de bons salários e condições de estadia satisfatórias. Porém, a história, ou “estória”, foi diferente quando chegaram na região.

Na cidade de Bento Gonçalves, em uma pousada, as condições eram diferentes das prometidas: quartos lotados, colchões mofados, lençóis sem serem limpos e até comida estragada, eram as ofertas dadas pela empresa Oliveira & Santana, responsável pela “mão-de-obra” utilizada nas colheitas de uvas. A operação, conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério de Trabalho e Emprego, deixa escancarada a fissura social brasileira, nação que, “aparentemente”, sente saudades dos quatro séculos em que a escravização de corpos alheios era a regra fundamental.

E o problema se agrava. Percebamos: falamos aqui de uma empresa terceirizada que prestava serviço de contratação de mão de obra para empresas que exportam seus produtos. Isso nos lembra as usinas de cana de açúcar lá dos anos 1800, não é mesmo? Mas, ocorreu em fevereiro de 2023, por incrível que pareça. Segundo o gerente do MTE, foram encontradas nessa “pousada” armas de choque, além de relatos de agressão, de uso de spray de pimenta para coagir os trabalhadores.

Ora, ora: falamos aqui de TERCEIRIZAÇÃO. E isso nos remete ao projeto do (golpista) Michel Temer, em 2017, que aprovou a terceirização da atividade-fim. E isso beneficia, sobretudo, os grandes empresários, já que a responsabilidade, por ora, é toda do responsável pela empresa que contrata a mão de obra, a Fênix Serviços de Apoio Administrativo. Essa lei aprovada dividiu trabalhadores e patrões, mas segundo o Ministério da Fazenda à época, tal aprovação iria facilitar a contratação e aumentar os postos de emprego.

Bom, pelo visto, os postos de empregos gerados pela ampliação da terceirização tem características que não esbarram no marco civilizatório que conquistamos em todo um século de muitas lutas sindicais e de movimentos sociais organizados, desde a Consolidação das Leis Trabalhistas. Temos muito no que avançar. Retrocedemos desde que a presidenta Dilma foi retirada do cargo – sem crime, vale reafirmar.

Que possamos, enquanto sociedade, rechaçar essas atitudes do capital e pressionar o governo para que fiscalize e consolide os direitos que nos foram arrancados.

Temos muito o que fazer, companheirada!

 

* Cientista Social, licenciado em Sociologia pela UFF. Especialista em Planejamento Participativo e Gestão Associada – FLACSO Argentina. Mestre em Desenvolvimento Regional e Políticas Públicas pela UFF.