Alessandra Murteira / Da imprensa da FUP – “Defender as estatais é defender o Brasil”. O tradicional grito de guerra que marcou as lutas da categoria petroleira nos últimos anos contra a privatização da Petrobrás foi ampliado e fortalecido nos atos desta terça-feira, um 03 de outubro histórico.
Os 70 anos da Petrobrás marcam a retomada das mobilizações e frentes de luta pela reestatização do patrimônio público que foi entregue pelo governo Bolsonaro e contra as privatizações impostas pelo governo de Tarcísio de Freitas, em São Paulo.
Desde cedo, a categoria se mobilizou, com atos nas bases do Sistema Petrobrás e em caravanas para o Rio de Janeiro, para o grande ato unitário da FUP e FNP com os movimentos sociais, em defesa das estatais e dos serviços públicos.
Em São Paulo, os petroleiros da Replan e da Recap realizaram paralisações em solidariedade aos trabalhadores do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que inicaram uma greve unificada nesta terça, contra o pacote de privatizações anunciado pelo governador bolsonarista.
No Rio de Janeiro, representantes da FUP e da FNP participaram de manhã da atividade institucional que a Petrobrás realizou no seu Centro de Pesquisas (CENPES), em comemoração aos 70 anos da empresa, e seguiram em direção ao Centro da cidade para o ato em defesa da soberania.
Trabalhadores de diversas categorias, do campo e da cidade, estudantes, militantes e lideranças de movimentos sociais e partidos políticos tomaram a Avenida Rio Branco em direção à sede da Petrobrás, na Avenida Chile, arrastando centenas de manifestantes pelo caminho.
Foi a primeira grande mobilização de rua, desde a posse do presidente Lula, que uniu diversas entidades do campo progressista, trazendo de volta a defesa das estatais para o centro das lutas populares. Mais de 40 organizações participaram da construção do ato, junto com a FUP, a FNP e a Plataforma Operária e Camponesa da Água e da Energia (POCAE).
Transição energética só será justa com reestatização da Eletrobrás e reconstrução da Petrobrás
Durante as falas das lideranças, foi enfatizado que, para o Brasil fazer a necessária transição energética, é fundamental que ela seja justa e inclusiva, o que significa fortalecer o Sistema Petrobrás e reestatizar a Eletrobrás.
Após ter sido privatizada no governo Bolsonaro, a Eletrobrás passou a ter um modelo acionário esdrúxulo, em que o Estado brasileiro tem hoje quase 48% de participação na empresa, mas apenas direito de voto de 10%.
Os trabalhadores ressaltaram em suas falas que isso não cabe no projeto de reconstrução do Brasil. A Eletrobrás, assim como a Petrobrás, é orgulho nacional, símbolo da identidade brasileira e, portanto, precisa ser resgatada para servir ao projeto de desenvolvimento nacional e soberania energética.
Emanuel Mendes, coordenador do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), ressaltou que, apesar de todas as dificuldades que os trabalhadores da Eletrobrás estão enfrentando desde que a empresa foi privatizada, a esperança foi renovada a partir da eleição do presidente Lula. “A gente quer deixar bem claro, não vão acabar com o CNPJ de Furnas, não vão acabar com o CNPJ da Chesf, não vão acabar com o CNPJ da Eletronorte, da Eletrosul e de nenhuma subsidiária da Eletrobrás”, afirmou.
Representando os movimentos que integram a Via Campesina, Eró Silva, da direção nacional do MST, reforçou que as lutas pela reestatização da Eletrobrás e pela reconstrução da Petrobrás são lutas que caminham junto com as lutas pela reforma agrária e pela soberania alimentar. “Para construirmos uma sociedade justa e igualitária, para combater a fome nesse país, precisamos garantir o acesso da população a alimentos saudáveis. E essas duas empresas são fundamentais não só para nós que somos lá do campo, mas também para nós que temos a agricultura urbana na cidade, nessa construção de combate à fome no nosso país”, disse.
“Para vencermos as sequelas das privatizações, precisaremos da luta coletiva”
No enceramento do ato, o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, e o secretário geral da FNP, Adaedson Costa, enfatizaram a importância da unidade na construção do ato, lembrando que esse 03 de outubro é muito mais do que a comemoração dos 70 anos da Petrobrás. É a volta às ruas em defesa da soberania nacional, da soberania energética, da soberania alimentar, das empresas públicas e estatais e dos serviços públicos de qualidade para a população brasileira.
“Construímos e realizamos um ato histórico, que simboliza a retomada das ruas nesse governo do presidente de Lula, porque a gente precisa cumprir o nosso papel de sindicatos e de movimentos sociais, pressionando o governo à esquerda para que o seu programa, que foi aprovado pela população nas urnas, seja colocado em prática”, afirmou Bacelar.
Ele destacou que foi nas ruas e nas greves contra os golpistas e os bolsonaristas que os trabalhadores, em aliança com os movimentos sociais, conseguiram impedir a entrega total da Petrobrás, lembrando que o projeto do governo anterior era privatizar a empresa no mesmo modelo da Eletrobrás.
“Se nós estamos aqui hoje, no dia 03 de outubro de 2023, é porque muitas lutas nós fizemos”, ressaltou Deyvid, enfatizando que, para vencer as sequelas deixadas pelo projeto privatista de Bolsonaro, é preciso continuar na luta, pressionando o governo e a gestão da Petrobrás. “E essa luta precisa ser coletiva, de todos os movimentos sindicais e sociais que aqui estão representados”, afirmou. Ele mandou o recado para os gestores da empresa que ainda tentam boicotar o projeto de retomada da Petrobrás: “Nós demonstraremos a capacidade de luta dos trabalhadores petroleiros”.
Adaedson Costa também destacou o orgulho de pertencimento a uma categoria que resistiu nos últimos seis anos à entrega da Petrobrás e que hoje unifica a luta com outros trabalhadores na defesa de todas as estatais.
“Me lembro muito bem que há um tempo atrás, um pouco antes da pandemia, estivemos aqui nesse mesmo local, fazendo um ato gigantesco e naquele momento, a Petrobrás, as estatais e o serviço público estavam sob pleno ataque do bolsonarismo. Foi a nossa luta conjunta, de classe trabalhadora, que nos fez vencer o fascismo. Mas isso só não resolve. Os seis anos de desmonte nos deixaram muita destruição e agora temos que reconstruir as nossas estatais, os serviços públicos e os direitos dos trabalhadores”, afirmou.
[Fotos: Luciana Fonseca/Sindipetro-NF, Paulo Neves/FUP]