Rosely Rocha / Da Imprensa da CUT – Anunciado em 21 de dezembro de 2018 e passado a ser utilizado pela população em novembro de 2020, o Pix, ferramenta criada pelos servidores públicos do Banco Central do Brasil, vem sendo monitorado pelos Estados Unidos desde 2022 , segundo documento oficial do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) que revelou que aquele país estava “preocupado” com os impactos da popularização da plataforma brasileira de pagamentos instantâneos. O Pix somou no fim de junho deste ano 159,9 milhões de pessoas físicas cadastradas.
Mas neste ano o ataque ao Pix pelo governo norte-americano aumentou. O presidente dos Estados Unidos Donald Trump com a desculpa de evitar evitar o julgamento por tentativa de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro (PL), justificou o tarifaço de 50% em cima das exportações brasileiras, também a uma “prática comercial desleal”, segundo ele, por parte do Brasil, numa referência indireta ao uso do Pix. Os ataques ao Pix e à soberania brasileira têm sido apoiados pelo filho do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que está nos EUA e por parte de parlamentares da extrema direita.
Mas por quê Trump quer o fim do Pix?
Primeiro que hoje para usar o Pix como pagamento à vista, as pessoas físicas e Microempreendedores Individuais (MEIs) não pagam tarifas ou taxas adicionais. Já as empresas (pessoa jurídicas) pagam um percentual muito abaixo dos cartões – em média de 0,33% do valor da transação e, dependendo do banco podem ser isentas porque a cobrança é opcional. Uma transação via cartão de débito custa ao comerciante em média entre 1,23% e 2% e o de crédito entre 3% e 5%.
Essas facilidades e juros menores acabaram por diminuir consideravelmente o uso dos cartões pelos brasileiros levando as grandes instituições financeiras dos EUA a perderem espaço e milhões de dólares. Além disso o Pix começou a ser aceito em alguns estabelecimentos da América Latina e na França, o que pode tirar o poder do dólar na economia mundial.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Vivian Machado demonstra o quanto o PIX retirou de lucro das empresas norte-americanas. Ela conta que uma pesquisa da Federação Nacional dos Bancos (Febraban) mostra que a participação do cartão de crédito, mesmo nos meios de pagamento, tem caído.
“Em 2020, por exemplo, as transações feitas pelo cartão de crédito representavam 22% do total e hoje estão em 14%. O cartão de débito representava 25% das transações no ano passado e neste primeiro semestre de 2025 ficou em apenas 11%”, diz Vivian.
Já o Pix se consolidou como o meio de pagamento mais utilizado no Brasil, superando o cartão de débito e o dinheiro em espécie. A pesquisa do Banco Central mostra ainda que 76,4% da população utiliza o Pix, enquanto o cartão de débito é usado por 69,1% e o dinheiro em espécie por 68,9%.
Volume financeiro
O volume financeiro movimentado pelo Pix em 2024 atingiu a marca de R$ 26,455 trilhões, com 63,51 bilhões de operações. Isso representa um crescimento de 54% em relação ao ano anterior, quando foram movimentados R$ 17 trilhões, segundo o Banco Central.
Por sua vez, o volume financeiro das compras realizadas com cartões de crédito, débito e pré-pagos cresceram 10,9% em 2024, somando R$ 4,1 trilhões, de acordo com dados da ABECs, associação que representa a indústria de meios eletrônicos de pagamento.
“O ataque de Trump é por conta disso, exatamente porque embora o volume de transações via cartões tenha aumentado, percentualmente diminuiu e o Pix aumentou muito mais “, diz Vivian.
Uma conta hipotética mostra o quanto as empresas dos EUA estão perdendo com o PIX. Se calcularmos apenas R$ 1,00 por Pix dentre as 63,51 bilhões de transações feitas, os cartões de débito e crédito perderam a movimentação no ano passado de R$ 63,51 bilhões. Esta conta não calcula a possibilidade do uso de TED e outros meios de pagamentos. Ainda assim a perda financeira dos cartões norte-americanos é bilionária, o que para Trump é inadmissível.
Quem também perde com o Pix é a modalidade do WhatsAPP Pay da bigh tech Meta, da holding que controla também as redes sociais: Facebook, Instagram e Threads, de Mark Zuckerberg, já que os brasileiros não aderiram a esse tipo de pagamento.
Pagamento on-line por Pix cresce
Até 2030, seis a cada em 10 pagamentos (58%) realizados em lojas virtuais serão feitos via Pix em 2030, segundo relatório “The Global Payments Report 2025” (Relatório Global de Pagamentos 2025) da Worldpay, multinacional norte-americana que oferece serviços e tecnologias de pagamento.
Atualmente as vendas pelo e-commerce (compras on-line) pelo Pix representam 41% das transações realizadas pelos consumidores. Já em lojas físicas, esse percentual cai para 31%. Ainda assim somando crédito, débito e pré-pago os cartões seguem como formas de pagamento fundamentais no Brasil. Segundo o relatório da Worldpay, essas modalidades responderam por 39% do valor das transações no e-commerce em 2024. Só o cartão de crédito segue sendo muito utilizado em compras de maior valor, especialmente por conta do parcelamento.
“Mas as pessoas estão preferindo o pagamento via Pix, muitas vezes, sem precisar carregar mais cartão, e entre acionar o cartão eletronicamente e fazer o pagamento via Pix, é mais fácil pegar o QR Code de onde você vai fazer o pagamento ou dar a sua chave Pix para receber alguma transferência. Então, o Pix está sendo priorizado pelos custos e pela facilidade”, acrescenta Vivian.
Outra facilidade do uso do PIX, segundo a economista, é o fato dele funcionar 24 horas, os sete dias da semana.
“Se você está num restaurante num sábado, o comerciante não vai esperar até segunda-feira para compensar aquele pagamento que ele recebeu. Então, para ele, é vantagem ter a liquidez do Pix. É vantagem para os comerciantes, é vantagem pra quem usa, pra quem paga, porque a pessoa física não tem taxa, não tem tarifa pra fazer esse tipo de transferência”, ressalta Vivian.
Compras parceladas podem acirrar competição
As compras parceladas pelo PIX começarão a funcionar a partir de setembro, o que pode aumentar o uso desse sistema de pagamento pelos brasileiros, já que os juros aos consumidores e para as empresas serão muito menores do que os cobrados atualmente pelas instituições financeiras de cartões de crédito como Visa e Mastercard, além da facilidade de o valor cair imediatamente na conta de quem vende.
Outro benefício do Pix parcelado é a não necessidade de limite. Basta ter o valor das parcelas na conta mensalmente para o débito ser efetuado. Caso não haja saldo na conta, o valor será pago da mesma forma, submetido ao cheque especial.
“O Pix parcelado também vai ajudar a evitar fraudes praticadas com boletos falsos enviados por golpistas já que as empresas não precisarão mais emitir esses boletos”, entende a economista.
Essas facilidades e juros menores devem diminuir ainda mais o uso dos cartões pelos brasileiros levando as grandes instituições financeiras internacionais a perderem espaço no mercado e bilhões de dólares.
Com esses novos formatos de Pix haverá uma redução do uso de cartões. O que também é importante, porque a gente tem um endividamento muito grande no cartão, que tem a pior taxa de juros no Brasil. Então, o fato de reduzir o uso dos cartões é benéfico no sentido de buscar diminuir também o endividamento da população
– Vivian Machado
Saiba como vai funcionar o Pix parcelado (informações do BC e G1)
O Pix parcelado surge como alternativa às taxas exorbitantes dos clientes bancários no cartão de crédito rotativo (acima de 15% ao mês) caso não paguem o valor total da fatura. Essa é a linha de crédito mais cara do mercado financeiro. Embora o parcelamento por meio do PIX já seja oferecido por várias instituições financeiras o BC vai padronizar as regras, o que tende a favorecer a competição entre os bancos.
O parcelamento deverá estar disponível para a população e para os lojistas a partir de setembro de 2025. Segundo o presidente do BC Gabriel Galípolo a nova modalidade beneficiará 60 milhões de pessoas que não tem acesso ao cartão de crédito.
Quem estiver recebendo terá acesso a todo o valor instantaneamente, mas quem estiver pagando poderá parcelá-lo.
O PIX parcelado possibilitará a tomada de crédito pelo comprador, em uma instituição financeira, preferencialmente com a qual já tenha relacionamento, para permitir o parcelamento de uma transação PIX.
A instituição onde o comprador detém a conta dará o crédito e definirá o processo em caso de atraso no pagamento das parcelas ou de inadimplência (juros), considerando seus procedimentos de gerenciamento de riscos, conforme o perfil do cliente como já acontece com outras linhas de crédito.
O Pix Parcelado poderá ser usado para qualquer tipo de transação, inclusive para transferências.
Prêmio Nobel de Economia elogia o Pix
O economista norte-americano Paul Krugman publicou um artigo nesta terça-feira (22) elogiando o sistema brasileiro de pagamentos Pix — sugerindo que o Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro. Krugman é vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008 e é professor da Universidade da Cidade de Nova York.
No artigo, intitulado “O Brasil inventou o futuro do dinheiro?”, Krugman critica a posição de parlamentares republicanos (partido de Trump) que aprovaram lei que impede a criação de moedas digitais por bancos centrais (públicos), sob a alegação de preocupações com privacidade, mas que suas verdadeiras preocupações são que muitas pessoas optariam por ter moedas digitais do banco central, em vez de contas correntes em bancos privados.
O governo de Trump aprovou a lei do Genius Act que estabelece regras para o mercado de stablecoins, as criptomoedas com lastro em dólar norte-americano.
Para o economista, a nova lei norte-americana “abre caminho para futuras fraudes e crises financeiras”.
A história do Pix pode ser lida aqui .