No último dia de XVI Congrenf, o primeiro tema a ser abordado foram “As formas de Precarização e Teletrabalho” pelo Técnico DIEESE, Economista com doutorado pela UFRJ, Iderley Colombini Neto. No início de sua palestra Colombini apresentou um histórico sobre o termo precarização que se originou nos anos 80 em estudos centrados na forma de trabalho dos europeus, sem levar em conta o trabalho exercido na América Latina, África e Ásia que sempre foram precarizados.
Explica que a regulação do trabalho teve início no pós guerra calcado no Estado de Bem Estar e na atuação dos sindicatos que eram muito fortes e lutavam por melhores condições de trabalho. “As formas que definem o trabalho dependem de processos históricos, padrões tecnológicos e da capacidade de mobilização dos trabalhadores para garantir melhores condições de trabalho” – afirma.
Colombini conta que na década de 80/90 com a neoliberalização as formas existentes de trabalho começam a se desestruturar. Surge a globalização, a concorrência e com isso as grandes empresas começam a fracionar sua atuação com fábricas em diversos países, com isso muito dos trabalhos foram desestruturados. Teve início a flexibilização das relações de trabalho, com a redução das leis que protegiam os trabalhadores e a redução de direitos.
O economista mostra que com a aquisição de novas máquinas para manutenção das altas taxas de lucro, alguns postos de trabalho não precisavam mais existir, também aconteceu que alguns trabalhadores não conseguiram se inserir no novo processo. Isso criou um enorme contingente de mão de obra reserva, que acabava por pressionar quem estava empregado a aceitar qualquer condição de trabalho.
Para Iderley, a forma de precarização vem mudando e aumentando. Um exemplo que ele apresenta para demonstrar essa situação são as plataformas (aplicativos) digitais de entrega de comida ou de na área do transporte privado urbano, onde o custo do trabalho passa todo para o trabalhador e as empresas passam a não arcar com mais nada. A competitividade entre os trabalhadores também aumenta.
O teletrabalho surge nesse meio. Num primeiro momento encanta o trabalhador que não precisa se deslocar para o trabalho enfrentando trânsito ou ônibus cheio, chefe coagindo. Com o passar do tempo o que era idealizado passa a se mostrar extenuante e uma nova forma de precarização.
Ele explica que a pandemia do COVID-19 veio para potencializar os processos que já estavam em curso na sociedade capitalista. Antes da pandemia, a Petrobrás já adotava para algumas áreas a metade do trabalho no escritório e metade em casa. Com ela, as empresas foram obrigadas a colocar todos os seus empregados administrativos em teletrabalho.
“Isso foi uma ótima saída para as empresas que puderam reduzir seus custos com imóveis, gastos de internet, luz e segurança. Além de muitas terem percebido um aumento da produtividade. Todo esse custo saiu da empresa para recair sobre o trabalhador, por isso a necessidade de negociar esse novo tipo de trabalho” – pondera Colombini.
Ele diz que a Petrobrás já anunciou que pós-pandemia metade dos trabalhadores vão continuar em casa. Isso num contingente de 20 mil trabalhadores administrativos, sendo 3.500 só em Macaé.
Novamente Iderley fala sobre a necessidade de uma nova regulação que trate dos novos custos e despesas do trabalhador e também da jornada de trabalho que passa a ser diferente em casa.
“Num momento em que os trabalhadores estão mais separados e a tendência é diminuir a capacidade da classe trabalhadora se organizar é importante fortalecer os sindicatos, que tem uma maior capacidade de negociação. É hora também de repensar novas formas de organizar a categoria através desse mundo virtual ” – conclui Iderley Colombini.