Um “Grito dos Excluídos” reinventado: pandemia incendeia atos virtuais e presenciais

De norte a sul, tradicional protesto se adaptou em 2020 para proteger o povo da covid

Brasil de Fato – O Brasil fechou este 7 de Setembro com múltiplos atos em alusão ao Grito dos Excluídos, com manifestações em diferentes localidades e regiões. Diante da pandemia e da necessidade de garantir o isolamento social, a tradicional mobilização precisou se reinventar neste 2020, com uma ampla oferta também de atos virtuais pelo país, além dos protestos presenciais. Fortaleza (CE), Brasília (DF) e extremo-oeste de Santa Catarina, por exemplo, estão entre os pontos onde os militantes foram às ruas para lembrar a data.

No Aterro da Praia de Iracema, na capital cearense, um grupo de militantes fez um ato simbólico e realçou a preocupação com os mais de 126 mil óbitos pela covid-19 no Brasil, além da luta dos trabalhadores por direitos e igualdade social.

Já os manifestantes que foram à rua na capital federal optaram por uma perfomance para recordar a violência contra as mulheres, a comunidade LGBTQIA+, os negros e indígenas, entre outros grupos.


Capital federal foi palco de ato simbólico para lembrar excluídos / Ana Moraes/MST

O Grito dos Excluídos surgiu em 1994, por iniciativa da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A entidade utiliza a data para fazer um contraponto ao chamado “Grito da Independência” e lembrar a importância da garantia de direitos, especialmente os da população mais vulnerabilizada, como trabalhadores, mulheres, negros, camponeses, entre outros.  Este ano, a mobilização fez sua 26ª edição e trouxe o tema “Vida em Primeiro Lugar” e o lema “Este sistema não vale: lutamos por justiça, direitos e liberdade

 


Crítica ao veto que reduziu benefícios da Lei Nº 14.048/2020 para agricultores foi lembrada, por exemplo, em protesto virtual da CUT / Pricila Baade

No rastro das últimas decisões tomadas pelo governo, militantes de todo o país destacaram, por exemplo, o veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao projeto que originou a Lei Nº 14.048/2020, que traria um conjunto de benefícios a camponeses, mas teve parte do conteúdo retirado pelo presidente.  O texto aprovado pelo Congresso Nacional havia resultado de uma série de 25 propostas legislativas avaliadas por deputados e senadores, por isso trabalhadores engrossaram o coro pela recuperação dos trechos vetados, o que será avaliado pelo Congresso.

As mobilizações também incluíram ações de solidariedade em diversos pontos do país. Em Campina Grande (PB), por exemplo, a Brigada Maria Carolina de Jesus distribuiu 50 cestas doadas por meio de uma parceria, além de 80 máscaras e sachês com álcool que foram doados pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).


Campina Grande teve doação de cestas, máscaras e sachês de alcool / Divulgação

Em Governador Valadares, Minas Gerais, militantes do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) saíram da zona rural para a cidade e doaram alimentos à população.


Mineiras que vivem no campo foram às ruas para doar produtos para trabalhadores das cidades / MMC

Em Belo Horizonte, um conjunto de organizações, pastorais, partidos e movimentos sociais da Frente Brasil Popular (FBP) se reuniu na Praça da Estação para bradar “Fora, Bolsonaro” e “Fora, Zema”. A referência, neste ultimo caso, é ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que vem aprofundando a agenda neoliberal no estado.


Divulgação / BH_praça da estação

Vozes internacionais também ecoaram os gritos dos protestos registrados no país. Via Twitter, o chanceler Venezuela, Jorge Arreaza, felicitou o povo brasileiro pelas jornadas e evocou os direitos a terra, teto, trabalho e democracia. “Da Venezuela expressamos nosso compromisso contra a exclusão, com a paz e a unidade soberana de nossos povos”, acrescentou.

Edição: Rodrigo Durão Coelho