Uma petroleira no CA da Petrobrás

por Alexandre Gaspari

Rosangela Buzanelli não é a primeira mulher a representar trabalhadoras e trabalhadores da Petrobrás no Conselho de Administração da empresa. Entretanto, sua eleição este ano é emblemática. Em um governo que desvaloriza e desrespeita as mulheres e vem promovendo o desmonte da companhia, vendendo ativos em diversas áreas e promovendo uma privatização da Petrobrás em partes, a escolha de Rosangela é símbolo não apenas de empoderamento feminino: representa também o desejo de petroleiras e petroleiros de ter uma Petrobrás pública e cada vez mais forte, retomando seu papel de vetor do desenvolvimento social e econômico brasileiro.

Com o lema “Reunir para Resistir”, Rosangela venceu o pleito em primeiro turno, recebendo 5.300 votos – 53,62% do total. Foi a primeira vez em que um representante dos trabalhadores da Petrobrás foi eleito em primeiro turno para o CA. O que se torna ainda mais representativo considerando que ela foi uma das duas únicas mulheres a concorrerem, numa lista de 21 candidatos.

Rosangela teve dificuldades em conversar com as pessoas em algumas bases da Petrobrás durante a campanha. Devido à histórica greve dos petroleiros em fevereiro – a maior desde 1995 –, seu crachá foi bloqueado e seu acesso impedido a algumas instalações da empresa.

Os percalços não desanimaram a engenheira geóloga de 60 anos, 33 deles dedicados à Petrobrás, como geofísica. O desafio de chegar ao CA foi maior, inclusive, que seus planos pessoais, que incluíam sua aposentadoria.

“Tenho compromisso com o coletivo desde jovem. Isso me fez adiar meus planos pessoais para contribuir com essa causa. Minhas principais motivações são o coletivo que está comigo e defender a Petrobrás, não poderia dizer ‘não’”, conta ela, explicando a importância do apoio da Federação Única dos Petroleiros (FUP) para sua decisão de concorrer ao CA da Petrobrás. “Pobre daquele que nunca experimentou a magia e a força do coletivo”, completa.

Rosangela Buzanelli é formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e tem mestrado em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Paulistana, ingressou na Petrobrás em 1987, quando se mudou para o Rio de Janeiro.
O trabalho como geofísica a levou a outras cidades do país, como Curitiba, no Paraná, e Macaé, no Norte Fluminense, onde mora desde 1997. Nos 33 anos de Petrobrás, Rosangela viveu experiências profissionais tanto na área operacional quanto na administrativa. Conheceu e conversou com trabalhadoras e trabalhadores de todos os níveis funcionais da empresa, o que lhe deu uma visão ampla das demandas de petroleiras e petroleiros da companhia.

Por isso, Rosangela faz questão de reforçar o caráter técnico e coletivo de seu mandato no Conselho de Administração da Petrobrás.
“Queremos marcar uma atuação bastante firme, com argumentos sólidos, baseados em estudos, fatos e dados, pelos direitos de petroleiras e petroleiros e por uma Petrobrás pública, forte, integrada e indutora do desenvolvimento social, econômico e tecnológico do Brasil. A missão é árdua, mas temos de ocupar esse assento para fazer o contraponto, trazer para esse fórum um olhar diferente da visão hegemônica que, baseado em estudos técnicos, provoque a reflexão de cada integrante do Conselho antes de votar”, detalha.
Outro ponto fundamental é garantir um trabalho com muita transparência, que dialogue com os trabalhadores e trabalhadoras. “Essa vitória é nossa, dos trabalhadores e trabalhadoras. Tenho o compromisso de defender a transparência, de defender a nossa Petrobrás e o corpo técnico da empresa. Vamos reunir para resistir”, lembra ela.