Vamos colocar o bloco na rua

por Conceição de Maria Rosa, diretora de Formação do Sindipetro NF

Em 2020, aspiramos reconstruir a esperança para o feminino no Brasil. É hora de retomar o bloco na rua:

“Há quem diga que eu não sei de nada, Que eu não sou de nada e não peço desculpas. ”

Como colocar esse bloco na avenida? E como sobreviver num pais que em pleno século XXI presencia o machismo, o sexismo, a misoginia, o aumento do feminicídio e tantos outros ataques? É retrocesso que se fala?
No atual governo, sentimos isso na pele todos os dias. Somos descartadas e coisificadas para não termos visibilidade nos espaços de poder que já nos pertencem, por isso nos agridem com palavras de baixo calão e tentam nos intimidar para nos deixar submissas.

“Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga, Que eu caí do galho e que não vi saída, Que eu morri de medo quando o pau quebrou.”

O pau quebrou mas avançamos nas participações em encontros, seminários, atos de rua, reuniões integradas e conferências, importantes para a participação da sociedade civil. As Conferências de Políticas para Mulheres foram relevantes nas três esferas, Municipal, Estadual e Federal. É a voz das mulheres que chega onde as politicas públicas se fazem, é a resposta social como resultado do acumulo de nossas lutas.
Como assumir os espaços de poder se nos são tirados todos os dias?

“…há quem diga que eu dormi de touca. Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga…”

Não fugimos. No cenário atual, a Petrobras vem sendo atacada pelo desmonte e pela privatização, temos nos desdobrado para manter a empresa de pé em uma conjuntura que nos coloca frente a frente com os obstáculos: os desinvestimentos, as vendas de refinarias, as vendas de ativos, o patrimônio se dissolvendo a olhos vistos. Nunca se presenciou a desnacionalização do pais como agora. E no mês anterior, erguemos nossas bandeiras em greve nacional para que a batalha não fosse em vão, ocupamos a sede da empresa, estivemos na porta com nossas reivindicações e nas ruas em marcha.

“Eu, por mim, queria isso e aquilo. Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso…”

Queremos viver a carnavalização, fazer movimentos, e voltar a sonhar. E que esses sonhos se eternizarem na esperança da mulher assumir espaços no Parlamento onde terão condições de gerir leis que possam contribuir com o debate de gênero e de trabalho e renda.
Nosso olhar alcançou as lutas das outras mulheres, tivemos no Brasil no bojo das eleições de 2018, o #elenão, que foi uma manifestação que nos colocava no centro das discussões e nos colocava presentes pela luta de nossos direitos e, recentemente, o protesto das chilenas que transpassou ou muros do país e atingiu o mundo todo com coreografias [o corpo que fala no silêncio da voz].
E no nosso cotidiano, será carnaval [a grande festa], quando conseguirmos ampliar a voz das mulheres no campo do sindicalismo, tornando-as presentes como diretoras ou como protagonistas das decisões da categoria e nas eleições e participações das Cipas (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) que têm ações importantes na saúde e segurança da trabalhadora e do trabalhador.
Seguiremos com unidade, buscando a equidade, e na voz o grito de liberdade e no corpo a marca do amor e da alegria e vamos, sim, colocar o bloco na rua.

“É disso que eu preciso ou não é nada disso, Eu quero é todo mundo nesse carnaval”