Veja o Manifesto elaborado pelos trabalhadores a bordo de P-33

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Os trabalhadores da Petrobrás e contratadas de P-33 realizaram uma  assembleia no dia  27/07/2011, às 20h e aprovaram um manifesto  que o Sindipetro-NF divulga abaixo.

Manifesto dos Trabalhadores da P-33 em 27 de Julho de 2011 – Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho.

     Há quase um ano, 110 trabalhadores embarcados nesta unidade divulgaram ao  Sindipetro-NF e à sociedade um documento que marcou história na Bacia de Campos.
     Naquele documento, foram tornadas públicas várias condições que tornavam inseguras as operações da plataforma.
     Foram apresentadas também circunstâncias absurdas que colocavam em risco a integridade física de todos os trabalhadores que aqui embarcavam.
     Para refrescar a memória, citaremos dois exemplos:
     1º) A porta do casulo do Turbo-Compressor (TC-B) poderia ter matado um ou mais trabalhadores na planta de processo no momento do sinistro de sua explosão;
     2º) A linha de gás-lift de um poço produtor (MRL-127) já vinha com  indícios de dano.
A constatação se deu através de inspeções por mergulho e providências foram postergadas; risco de acidente grave; aconteceu o rompimento da linha de gás; não houve feridos ou mortos.
     Deus estava, como sempre, presente. Ou a boa sorte, caso prefiram os descrentes.
     A Marinha do Brasil e a ANP tomaram providências cabíveis e legais, houve a interdição da unidade e um grito de alerta foi dado para toda a Bacia de Campos.
     Em seguida, foram expostas as mesmas péssimas condições em que se encontravam outras unidades e, em conseqüência, vieram mais interdições.
     Hoje, decorridos todos esses meses, não há motivos para comemorar.
     Muito pelo contrário.
     Será que as autoridades responsáveis pela imagem da maior empresa do Brasil e 3ª maior empresa de energia do mundo não têm a percepção de que vidas estão em risco e acidentes gravíssimos podem acontecer a qualquer momento? 
     Será que essas mesmas autoridades têm a memória tão curta a ponto de já terem esquecido o que aconteceu em Março de 2001, nesta Bacia de Campos, onde 11 brasileiros perderam suas vidas no brilhante e honroso cumprimento de seu dever?
     Senhor Presidente da PETROBRAS, Senhores Gerentes Executivos, Senhores GG’s, Senhores Gerentes Setoriais, Senhores Geplats, Senhores Coordenadores e Supervisores, o que aconteceu em Março de 2001 na Bacia de Campos? 
     Será que tudo caiu no esquecimento?
     Onde foi parar o PEO (programa de excelência operacional implementado e implantado após esta grande tragédia) com todas as suas diretrizes e condições como, por exemplo, a de efetivo mínimo de trabalhadores para as áreas operacionais?
     Será que o PEO foi esquecido em alguma gaveta da engrenagem burocrática?
     Dez (10) anos se passaram e parece que 74 mortes não têm qualquer significado.

     Dessa forma, inconformados com o atual estado de coisas, aproveitamos a oportunidade para manifestar, mais uma vez, nossa preocupação com as condições a que estão submetidos os trabalhadores em nossa unidade:

1) Os vôos de transbordo se tornaram uma rotina. Inicialmente para o Floatel em P-20, depois em Enchova e agora para o Floatel que está na P-37.
Ninguém nega a necessidade das obras em andamento. Seria um contra-senso.
 Mas o fato é que a dinâmica dos trabalhos seria muito maior se os trabalhadores fossem poupados desse desgaste.
Os trabalhadores efetivamente exercem suas atividades de 08 às 11 e de 12 às 15 h.
São apenas 6 horas por dia.
Se houvesse melhor planejamento, esses vôos de transbordo poderiam ser substituídos por embarques de 14 dias. O que sairia mais barato?
E quanto aos riscos nos vôos ?
 Para piorar, por 3 vezes já tivemos aeronaves fazendo pernoite em P-33 por conta de avarias. Estamos contando com a perícia de nossos bravos pilotos. Até quando?

2) A fusão das coordenações de facilidades e manutenção, em nosso caso, foi um desastre. Os novos supervisores não têm qualquer treinamento para gestão de pessoas e, assim, perdem as duas áreas: ficamos sem excelentes técnicos de manutenção e não temos bons supervisores. A gestão de pessoas na Petrobras continua com as mesmas práticas de 1970 e não podemos compactuar com esse modelo arcaico e danoso tanto às atividades de manutenção quanto às relações pessoais.

3) O sistema de emissão de PT’s é falho. De acordo com a conveniência de superiores, um emitente pode ser responsável por mais de 7 PT’s. Já houveram desentendimentos entre colegas de trabalho por conta dessa aberração. 

4) As pendências de CIPA demoram séculos para suas quitações. Parece que são tratadas como brincadeira de adolescentes irresponsáveis. Os integrantes da CIPA não inventam problemas de uma hora para outra como se fossem do contra. A conseqüência do descaso  é que os trabalhadores PETROBRAS e Colaboradores deixam de comunicar aos integrantes da CIPA riscos potenciais por achar que nada será levado adiante.

5) Há anos temos conhecimento de que os funcionários de empresas de Hotelaria recebem salários vergonhosos e são tratados a ferro e a fogo por superiores. A título de exemplo, vale citar que não usam macacão RF e precisam eventualmente andar em áreas classificadas para movimentação de rancho. Há plataformas em que a faina de rancho é feita pelo pessoal de movimentação de carga. 
As infinitas multas aplicadas por fiscais de contrato de Hotelaria (enfermeiros) são filtradas em alguma parte do processo e não chegam efetivamente a doer no bolso dos patrões.
Uma AUDITORIA EXTERNA E INDEPENDENTE seria perfeita para os casos de contratos de  Hotelaria. Responsabilidade Social também se dá quando uma empresa – no caso a PETROBRAS – exige de suas colaboradoras prestadoras de serviços, tratamento digno a seus funcionários.
Não basta na teoria,como está escrito no item 03 dos princípios do E%P. A PETROBRAS precisa mostrar na prática que existe responsabilidade social em seus contratos.
Principalmente com aqueles de Hotelaria.
Pergunte a qualquer Taifeiro da Bacia de  Campos o quanto ele ganha depois de todos os   descontos legais.

6) Por fim, queremos deixar bem claro que nossa preocupação não é apenas venal, É MORAL.Não aceitamos que a prática do suborno ultrapasse o limite da moral e da ética,  onde os petroleiros desta unidade exigem por direito e honra que a Petrobras avance na negociações da PLR 2010,o fim do Superbônus para os cargos comissionados e uma posição definitiva sobre a proposta de PLR futura.

Uma PLR justa não se quantifica apenas em reais ou dólares. Sejam milhares, milhões ou bilhões.

Uma PLR justa se dá também quando esses vencimentos não vêm com a triste memória de graves acidentes e o derramamento do sangue de vidas humanas.

Os trabalhadores embarcados em P-33 realizam neste momento um minuto de silêncio em homenagem póstuma aos HERÓIS da P-36 e tantos outros que se foram ao longo destes últimos 10 anos e  subscrevem essas humildes palavras.