Em live do Sindipetro NF na última segunda-feira (9), o diretor de Relações Institucionais da Coppe/UFRJ e ex-presidente da Eletrobras, Luiz Pinguelli Rosa, afirmou que a Petrobras deveria parar com o plano de privatizar a atividade de refino.
Pinguelli denominou a venda desses ativos como uma “jabuticaba”, algo que só tem no Brasil, pois as grandes empresas produtoras de petróleo do mundo também investem fortemente em derivados.
“Retirar parte da capacidade de refino da Petrobras é uma contradição, vai na contramão do que fazem a ExxonMobil e a Shell, que são as maiores refinadoras mundiais”, disse Pinguelli.
Segundo o especialista, em virtude das oscilações dos preços internacionais do petróleo, há momentos em que o refino tem maior lucratividade e há outros que a exploração e produção que tem mais lucratividade. “É um erro crasso. Vender refinarias é deixar a Petrobras sem lucro, desdentada”, afirmou.
Privatização sorrateira
Para o diretor da Coppe/UFRJ, o atual governo, liderado pela política na área econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, de vender ativos estatais, acaba por desarmar a Petrobras como empresa de petróleo, indo contra os interesses nacionais e ao próprio equilíbrio econômico-financeiro. Pinguelli lembrou já foram vendidos o controle da BR e um gasoduto, e o plano é vender quatro refinarias.
“É uma privatização sorrateira. O Paulo Guedes vai vendendo tudo que pode e daqui a pouco não vai sobrar nada”, disse.
De acordo com o ex-presidente da Eletrobras durante o início do governo Lula, o Brasil atual apresenta uma “subserviência vergonhosa” em relação aos Estados Unidos que não leva em conta as necessidades do país, caso da venda de ativos da Petrobras e do 5G na telefonia móvel.
Venda de atividades lucrativas
Na terça-feira (10), o convidado foi o advogado da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindipetro NF Normando Rodrigues. O advogado reforçou a importância da campanha nacional Petrobras Fica! diante do atual momento do Brasil e da empresa.
“A década de 90 e hoje guardam semelhanças. A eleição de Collor se dá com um discurso neoliberal com a desconstrução do Estado e essa ideia foi reforçada com FHC. No governo fascista de Bolsonaro, a Petrobras não corre risco de ser privatizada, a empresa está sendo forçada a entregar suas atividades lucrativas ao capital privado”, afirmou.
Para Rodrigues, a Petrobras está sendo destruída tendo por trás uma estratégia intencional. “Não é um desgoverno. Existe um plano muito lógico em favor de Guedes e dos investidores transferindo ativos para o capital privado. Nenhuma empresa de petróleo grande sobrevive sem o refino”, argumentou.
Sobrevivência da Petrobras
O advogado dos petroleiros da FUP e do Sindipetro NF classifica como “crime” a venda da BR Distribuidora. “A Petrobras não sobreviverá como empresa grande de petróleo, será uma empresa de assessoria a outras grandes petrolíferas”, disse.
Tal venda de ativos ao capital privado, argumentou, vai piorar as condições de trabalho dos empregados. “Quando a Petrobras vende uma plataforma a uma operadora privada, 20% da força de trabalho é reduzida por causa da escala de trabalho”.
Sobre a crise econômica no Norte Fluminense devido à redução das atividades da Petrobras, ele ressaltou o fim da política de conteúdo nacional na compra de equipamentos, que afastou diversas empresas da região, com a perda de postos de trabalho. “Macaé perdeu 11 mil postos formais de trabalho por conta do fim do conteúdo local com impactos no trabalho informal. Nas eleições deste domingo, a população dos municípios do NF deveria refletir sobre os candidatos que apoiaram esse suicídio econômico na região”, afirmou Rodrigues.
Importância das eleições municipais
Na quarta-feira, foi a vez de Roberto Moraes, professor, engenheiro, blogueiro, E pesquisador circuito petróleo-porto e do capitalismo de plataformas e finanças, que também alertou para importância das eleições municipais deste domingo. “Que a eleição de vereadores e prefeitos possa ajudar a transformar o Brasil em um país para a maioria, é importante que os trabalhadores escolham os candidatos que tenham lado sobre os seus interesses”, afirmou Moraes.
Sobre a atual política de negócios da Petrobras, que envolve a venda de ativos e a redução drástica da produção da Bacia de Campos, ele avalia que a principal questão é se é uma empresa voltada para enriquecer os acionistas ou para desenvolver o país.
“Não adianta criar facilidades para o investimento privado porque ele vai para onde a rentabilidade é maior”, disse. “Só empresas estatais podem ter a lógica de geração de riqueza e de desenvolvimento regionais”, completou.
O engenheiro falou sobre o impacto da financeirização e da atuação das plataformas digitais sobre os setores de petróleo e de portos, com a presença cada vez maior de fundos financeiros no controle das empresas.
“O processo de plataformismo só tem interesse no resultado de curto prazo e pode ser visto no setor de petróleo, como na Petrobras”, observou.
O resultado, concluiu Moraes, é a maior retirada do valor do trabalho, com a maior precarização do trabalho em um contexto em que o mercado controla a produção e descarta a regulação do Estado.
Apoio à cadeia produtiva
O especialista também comentou sobre o problema do petrorrentismo dos royalties sem levar em conta o apoio a políticas de desenvolvimento da cadeia produtiva de equipamentos e serviços do setor de petróleo por parte de parte dos governantes municipais da região do Norte Fluminense.
“Existe a economia gerada pela produção do petróleo. Em Macaé, a receita de ISS é maior que a de royalties porque tem economia do petróleo, ao contrário de Campos, que é uma economia de royalties e não vinculada diretamente à economia do petróleo”, explicou.
Para o engenheiro, o fim da política de conteúdo nacional causou sérios estragos na economia da região. “Tendemos a ficar só com a economia dos royalties, que é menor e gera empregos de menor qualificação com salários mais baixos”, afirmou.