Vetar o termo presidenta é um desrespeito ao dicionário e a luta das mulheres Medida, que parece simbólica, demonstra perfil de governar do presidente golpista
Notícia de que a EBC retomou uso de ‘presidenta’ após volta de diretor nomeado por Dilma” ganhou destaque na imprensa e incentivou debate entre feministas, mulheres da política e na reunião do Conselho Curador a Empresa Brasil de Comunicação.
Segundo a presidenta do Conselho Curador, Rita Freire, representante da sociedade civil no espaço, o Conselho tem como principal atribuição zelar pelos princípios e pela autonomia da empresa, impedindo que haja ingerência indevida do Governo e do mercado sobre a programação e gestão da comunicação pública.
“O conselho curador já tinha tratado sobre este assunto na última sessão, pois chegaram informações, pelos trabalhadores, de que havia uma orientação de que a palavra presidenta devia ser banida e que era pra usar presidente”, contou.
Rita lembrou que hoje os nomes sociais garantem as pessoas o direito de ter o tratamento relacionado com a identidade e como quer ser tratada. “Eu mesma solicitei à empresa que revisse isso e passasse a usar o termo presidenta”. O conselho está arguindo e exigindo que seja respeitado o termo presidenta pra se referir a chefe do executivo eleita e também pra outras presidentas, como eu presidenta do conselho curador, que também faço questão.
Rita explicou o funcionamento do conselho e disse que o Conselho Curador da EBC faz solicitação, se não é atendido faz uma recomendação, se é muito relevante faz uma resolução e ai isso vira uma lei da EBC. “Mas nós queremos que já seja atendido na primeira solicitação”, destacou Rita.
Rosane Bertotti, que também faz parte do Conselho representando a sociedade civil, lembrou que não aceitar o termo presidenta é um desconhecimento da língua brasileira. De acordo com as lexicógrafas Marina Baird Ferreira e Renata de Cássia Menezes da Silva, que realizaram a pesquisa histórica sobre o termo do Último Segundo do IG, numa matéria publicada na portal da internet: o substantivo feminino presidenta existe na língua portuguesa desde 1872. Segundo o estudo, em dicionários, os primeiros registros da palavra ocorrem ao menos desde 1925.
“Proibir o uso do termo presidenta é um desrespeito ao dicionário e às lutas das mulheres”, completou Rosane, que também é Secretária Nacional de Formação da CUT.
A dirigente destacou que no Conselho a igualdade sempre foi respeitada. “No Conselho foi feito defesa de gênero, tanto aprovando critérios de paridade no conselho como exigindo mulheres nas bancadas da tela com critérios de paridade e de raça”, afirmou.
“É terceira mulher seguido que preside o Conselho Curador da EBC”, finalizou.
Para a Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora na CUT, Junéia Martins Batista, o machismo deste governo coloca a mulher no segundo escalão, bem como o governo “golpista” montou seu ministério, ‘só com homens, ricos, brancos e héteros’.
“Esse governo não conseguiu dialogar de nenhuma forma com as mulheres, além desta de não aceitar uma mulher pra presidenta, nomeia uma secretaria de políticas para mulheres, que segundo a própria grande mídia é corrupta e com posicionamento contrário ao da própria CUT, dos movimentos de mulheres e do movimento feminista, sendo contrária ao aborto em caso de estupro”, justificou.
Juneia explicou que todo meio de comunicação tem uma linha editorial. “A mídia sempre influencia a população e o medo deste governo golpista é que o termo se torne natural e respeite a primeira mulher presidente deste país. Como comunicação pública, a EBC tem que respeitar as decisões do Conselho que protege os direitos e que respeita a diversidade deste país”.
Rita Freire, que também milita na Rede Mulher e Mídia no Conselho, disse também que é um escândalo o que está acontecendo e tem algumas questões, como essa que parece um detalhe, mas que é simbólica e afirma muito do que o Conselho quer. “Virou uma queda de braço feminista contra todos estes braços machistas que estão tentando nos censurar. Nós queremos que a EBC respeite as mulheres e que o Brasil respeite as mulheres”, finalizou.