Editorial do Nascente: Golpe e racismo

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A ascensão conservadora no mundo e golpista no Brasil não poupa ninguém. Ela tem viés de classe, tem viés de gênero e tem também viés racista. Neste Mês da Consciência Negra é preciso chamar especialmente a atenção para este terceiro aspecto.

Se é notória a reação da classe dominante contra os direitos trabalhistas, obtendo êxito em exterminá-los em proporção jamais vista na história brasileira, e se também está clara a ligação desta elite patronal com valores tradicionais do patriarcado, não é menos evidente que esta mesma elite foi cultivada sob a influência de um legado cultural escravocrata e preconceituoso contra os negros.

O caso recente do jornalista Willian Waack não é isolado. Muitos da sua geração habituaram-se a cometer cotidianamente aquele tipo de crime e permanecerem impunes. Pior: frequentemente sequer eram percebidos como racistas, pois muitos deles conservavam a desfaçatez dos bons tratos, a elegância do bom convívio, não raras vezes orgulhando-se de “tratar a empregada negra como membro da família”.

Só que cresceram os movimentos negros, aumentaram as ações de formação que estimularam as reflexões sobre estas mazelas, e esta forma “cordial” de preconceito foi sendo explicitada. Há não muito tempo era comum o argumento de que o Brasil não era racista, era “apenas” desigual socialmente — raciocínio que embalou a muitos dos opositores da implantação da política afirmativa de cotas para negros nas universidades. Hoje não há mais espaço para isso, e foi isso que encorajou a denúncia contra Waack.

O respeito, a mudança de mentalidade, a busca da igualdade, a equalização dos direitos, a criminalização dos ataques, são imposições éticas e civilizatórias para todos os lutadores que constroem um mundo melhor. E o 20 de Novembro é um dos marcos essenciais dessa luta.

A disputa simbólica pela memória de Zumbi dos Palmares precisa ser permanentemente fortalecida (muitos estados e municípios ainda resistem em atribuir a condição de feriado ao dia). A luta contra o conservadorismo e o golpe também passa pela cultura, pela identidade e pela memória.

[Nascente 1018]