Evento sobre “Trabalho e Desgaste Mental” lota auditório do sindicato

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Com o auditório da sede de Macaé lotado, a diretoria do Sindipetro-NF promoveu na noite de terça, 26, a mesa redonda com as médicas psiquiatras, Edith Seligmann-Silva (USP) e a Silvia Jardim (UFRJ).  Na abertura do evento, o Coordenador do Sindipetro-NF, José Maria Rangel, relembrou que “o acidente com a P-36 foi um marco na luta dos trabalhadores do setor petróleo por mais saúde e segurança. Na época do acidente o Sindipetro-NF tinha apenas 5 anos de existência.  De lá para cá percorremos um caminho de muitas conquistas. Naquela época tínhamos 24 cláusulas no ACT que tratavam desse tema, hoje já são 43 cláusulas”.

Zé Maria citou algumas das principais conquistas na área como o anexo 2 da NR-30, o Direito de Recusa. a participação do sindicato nas investigações de acidentes,  nas reuniões das Cipas por plataforma e nas fiscalizações dos órgãos como SRTE, IBP e ANP. Rangel também informou que como membro do Conselho de Administração da Petrobras  conseguiu que essa instância da empresa passasse a discutir questões ligadas ao trabalhador.

Um alerta foi feito pelo sindicalista de que  atualmente a segunda maior causa de afastamentos na Petrobrás são os problemas de saúde mental. “Essas seqüelas não são reconhecidas pelo empregador e são fruto da produção a qualquer custo.

A Doutora Edith Seligmann-Silva (USP) disse ser uma infâmia esse não reconhecimento do adoecimento, porque se trata de uma resposta do corpo humano aos choques que ele recebe. “Se o trabalhador silencia de maneira continuada é muito fácil surgir problemas de nível físico e mental. Isso porque ele é obrigado a ficar calado quando está sendo explorado. Muitas doenças têm raiz nas tensões emocionais” – disse.

Selligmann sugeriu aos trabalhadores não permitam que as pressões levem ao individualismo e ao isolamento, porque só através da luta conjunta e da união é que podem reverter essa situação.

Silvia Jardim fez sua apresentação com base no filme “A vida secreta das palavras”, que trata da vida de uma industriária que acaba trabalhando como enfermeira numa plataforma, para cuidar de um queimado temporariamente cego. 

Para Silvia , “os petroleiros vivenciam um processo de trabalho que produz uma categoria de trabalhadores que traz todas as questões da contemporaneidade. Junto com ela vêm também os transtornos por estresse pós-traumático, pelo confinamento, pelo trabalho off-shore, pelo despatriamento, pelo repatriamento. O campo da saúde mental do trabalhador é multi e interdisciplinar. Portanto, a categoria dos petroleiros tem responsabilidades enormes, como a de se pensar como categoria, a de se responsabilizar pela sua própria luta. Os petroleiros podem ser, por toda esta complexidade e novidade, um paradigma para o estudo da saúde mental dos trabalhadores”.

Essa atividade marcou 13 anos da passagem do acidente ocorrido com a P-36 que causou a morte de 11 petroleiros depois de uma série de explosões, no dia 15 de março e que se tornou um marco na luta da categoria petroleira por condições seguras de trabalho.