Categoria conquista avanços na Greve

À 0h da segunda, 23, começou mais um movimento vitorioso da categoria petroleira. A noite se anunciava tensa desde os primeiros movimentos dos trabalhadores dispostos a fazer a greve. E toda truculência das gerências e das equipes de contingência se manifestou no momento em que tentavam tomar a plataforma para colocar gente despreparada na operação.

Nesta mesma noite, o destempero de um gerente em Cabiúnas, que acelerou seu carro em direção a grevistas que faziam concentração no portão da unidade, e por pouco não atropelou duas pensionistas que seguravam uma faixa do sindicato, apenas confirmou a disposição autoritária do sistema Petrobrás para lidar com a greve.

A companhia também havia cortado as comunicações por internet e telefone – e há registro de que até mesmo por rádio era difícil estabelecer contato. Cinicamente, a Petrobrás disse que aconteceu uma falha técnica, e que trabalhava pelo restabelecimento da comunicação. 

O golpe baixo e criminoso da companhia em muito atrapalhou o contado do Sindipetro-NF com as plataformas. Em um momento crucial, por exemplo, como o da virada de domingo para segunda-feira, a Web Rádio do Sindipetro-NF estava no ar, com o coordenador geral do sindicato, José Maria Rangel, e com o assessor jurídico do NF, Normando Rodrigues, prestando vários esclarecimentos sobre o movimento, e quem estava a bordo das unidades da Bacia de Campos não pode ouvi-los.

Mesmo assim, a categoria respondeu com intensa adesão. E começou a enfrentar as equipes de contingência, resistindo ao máximo à tomada da unidade pelo exército de pelegos enviados pela empresa. A resposta veio com a apresentação da cartas de demissão. Muitas unidades, então, seguindo nova orientação do sindicato, passaram a entregar a unidade, mediante assinatura de um documento para responsabilizar os pelegos pela posse indevida do comando da produção, e os trabalhadores grevistas desem-barcaram.

Tiro no pé

Em terra, os petroleiros grevistas das plataformas, junto aos demais trabalhadores de bases de terra, reconfiguraram rapidamente o movimento, e passaram a participar de reuniões no sindicato e de atos nas unidades. Isso mostrou que a Petrobrás dera um tiro no pé quando cortou as comunicações, forçou o controle pela equipe de contingência e acabou provocando o desembarque.

Juntos, os trabalhadores grevistas ficaram ainda mais fortes, e realizaram manifestações históricas. A cada dia, pela manhã, uma base de terra se tornou cenário da mobilização petroleira. Na quarta, um “trancaço” provocou engarrafamento na entrada de Cabiúnas. Na quinta, “trancaços” nos portões de Imbetiba, seguidos de uma passeata que partiu da Praia Campista para a sede do sindicato, mostraram para a sociedade a disposição de luta dos trabalhadores, angariando muitas manifestações de apoio da população. Na sexta, uma concentração no Parque de Tubos também reforçou a disposição dos petroleiros e contou com adesão importante em empresas do setor petróleo privado.

O Norte Fluminense, mais uma vez, teve grande peso no movimento nacional da categoria, que também empreendeu grande mobilização em diversas bases do país, algumas até mesmo com a manutenção do controle da produção.

O resultado foi uma grande força que se refletiu na mesa de negociações. Quando a FUP e os sindicatos partiam para reuniões com a empresa, sabiam que tinham por trás uma categoria mobilizada. A Petrobrás, então, teve que ceder, e passar a tocar em pontos que não aceitava discutir, e a propor uma PLR que não estava em seus planos admitir.

A proposta arrancada com a luta dos petroleiros, que foi aprovada nas assembleias da noite da sexta-feira. Ela garantiu que a PLR não fosse reduzida, como se pretendia, sinalizou para a negociação da PLR futura, assegurou mais um feriado para a dobradinha, fixou algumas novas ações para a área de SMS, registrou compromisso com a garantia do emprego no setor privado e retirou o interdito proibitório. Além disso, não conteve, como pretendeu a empresa inicialmente, nenhuma referência a punições de trabalhadores grevistas. 

É assim que se faz história. E a categoria petroleira escreveu mais um capítulo da sua.