Ação do gás em Campos revela histórias de desemprego no setor petróleo

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Quando, em novembro de 2019, o Sindipetro-NF realizou a primeira ação do gás em Campos dos Goytacazes, a dona de casa Joelma da Silva Machado, 60 anos, ficou sabendo em cima da hora e não conseguiu chegar a tempo de comprar um dos botijões vendidos a preço subsidiado pelo sindicato. Hoje, ela decidiu não arriscar: chegou às 4h30 à Praça do IPS para ação marcada para às 9h, e garantiu o primeiro lugar na fila.

Joelma mora com quatro filhos, entre 24 e 29 anos, três deles ex-empregados de empresas do setor petróleo que prestam serviço à Petrobrás na Bacia de Campos. Todos têm formação técnica, mas apenas um está em um emprego formal, no Porto do Açu, em São João da Barra, uma cidade vizinha. Outro, que embarcou na Bacia de Campos até 2017, ganha agora a vida dirigindo para a empresa Uber. Os outros dois tentam colocações no mercado.

Foto: Eduardo Hipólito
Joelma e Amilton, primeira e segundo a chegarem para a ação no IPS

O valor do gás, que tem variado em Campos entre R$ 70,00 e R$ 80,00, faz muita diferença em seu orçamento muito apertado. Um botijão em sua casa, disse, dura pouco mais de um mês. Na ação do Sindipetro-NF o produto está sendo vendido a R$ 40,00, com limitação de uma unidade por pessoa, até 250 botijões. Às 9h, já havia uma fila com 150 pessoas aguardando o início da venda subsidiada, quase sempre com histórias muito semelhantes, de emprego há até um tempo recente e de desemprego atual.

É assim com o segundo da fila, que chegou pouco depois de Joelma, o pintor industrial Amilton Cruz, 61 anos, que também trabalhou até 2017 em uma empresa privada do setor petróleo. Durante 27 anos ele embarcou em inúmeras plataformas da Bacia de Campos, numa passada rápida de memória cita PNA-1, PNA-2, PCH-1, P-09 e Pampo — essa última, lembra, “a mais perigosa”. Hoje tenta uma vaga no Porto do Açu, enquanto tenta a aposentadoria.

E também com a terceira, a comerciária Rayane Manhães, 25 anos, que estava empregada em uma loja em um bairro nobre da cidade, a Pelinca, até a semana passada, e agora tenta um novo emprego.

Rayane, terceira da fila, perdeu o emprego na semana passada

Essa realidade foi destacada pelo diretor do Sindipetro-NF, Sérgio Borges, durante uma fala aos moradores participantes da ação. Ele lembrou que esse desemprego é fruto de uma opção política que retira da Petrobrás o papel de indutora do desenvolvimento nacional, e que essa é uma razões que levam os petroleiros a estarem mobilizados.

O sindicalista também procurou ser didático para explicar a ação do gás, que é uma forma de conscientizar a população sobre o erro da política do governo para o preço dos combustíveis. “A gente ganha o nosso salário em Real, a gente consome os nossos produtos em Real, a gente está aqui numa feirinha, algumas pessoas já devem ter comprado aqui com os vendedores alguns legumes, verduras, tudo em Real. Por que a gente vai pagar um preço de botijão de gás em Dólar? Que maluquice é essa?”, questionou.

Borges explicou ainda o modo como o preço do gás, o desemprego, a queda dos royalties do petróleo, têm relação com opções equivocadas para a economia do País e para o setor petróleo. Ele lembrou que a Petrobrás está reduzindo os seus investimentos, vendendo ativos, diminuindo a produção nas refinarias, e que isso gera impactos no dia a dia das pessoas, chamando a comunidade a estar atenta a estes temas.

As ações do gás ou da gasolina — como a realizada pelo Sindipetro-NF, em Macaé, ontem — têm sido realizadas por vários sindipetros do País. Foi uma forma encontrada pela categoria petroleira para dialogar com a população sobre a conjuntura do País e estimular a conscientização sobre temas da economia e do setor petróleo.

 

[Fotos: Eduardo Hipólito / Para Imprensa do NF]