Brasil deve ultrapassar hoje 600 mil mortes pela Covid em tragédia ampliada por Bolsonaro

O Brasil deve ultrapassar hoje 600 mil vidas perdidas para a Covid-19. De acordo com o consórcio de veículos de comunicação que faz o levantamento dos números da pandemia, o país atingiu ontem 599.865 mortes.

A marca é ainda mais trágica em razão das fartas evidências, tanto reunidas pela CPI da Covid quanto já divulgadas por especialistas, de que o governo federal é responsável direto por centenas de milhares dessas perdas. O Brasil teve a conjugação, portanto, da tragédia da pandemia com o pior governo da sua história, que negligenciou desde o início as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da Ciência.

Senadores mais destacados da CPI da Covid, como o presidente Omar Aziz (PSD-AM) e o relator Renan Calheiros (MDP-AL), têm falado abertamente que a responsabilização do presidente Bolsonaro constará do relatório final. O documento será enviado ao Ministério Público Federal e poderá ensejar ações jurídicas, com desdobramentos possíveis também no Congresso Nacional — onde adormecem mais de 130 pedidos de impeachment.

Também já foi aventada, na CPI, a possibilidade de envio do relatório para o Tribunal Penal Internacional de Haia, que julga crimes contra a humanidade — embora, para este caso, as perspectivas de efetiva responsabilização sejam difíceis e de longuíssimo prazo, como mostrou matéria da BBC Brasil.

Quatro em cada cinco na conta de Bolsonaro

As pesquisas que de alguma forma buscaram identificar qual a quantidade de mortes pela Covid-19 poderiam ter sido evitadas no Brasil se não fosse o negacionismo do governo — com seu pacto de morte pela “imunidade de rebanho”, uso (e fabricação) de cloroquina, estímulo à aglomeração e ao não uso de máscara — vinham sendo realizadas já a partir das primeiras centenas de vidas perdidas acumuladas.

Quando o país atingiu 500 mil mortes pela Covid-19, em junho passado, foi possível saber, por meio de pesquisa do epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, que pelo menos 396 mil delas foram consequência direta do negacionismo do governo Bolsonaro. Poderiam ter sido evitadas aproximadamente quatro mortes a cada cinco, portanto.

“O cálculo dele leva em consideração que 2,7% da população mundial vive no Brasil, e projeta quantas mortes por covid-19 teriam ocorrido no país se ele tivesse tido um desempenho na média mundial. A diferença entre esse número e o número real de mortes ocorridas é atribuída por ele ao “mau desempenho” do Brasil no enfrentamento da pandemia. O raciocínio foi exposto em uma carta publicada na revista científica The Lancet em 22 de janeiro e intitulada SOS Brasil: ciência sob ataque, e citado pela microbiologista Natalia Pasternak à CPI da Pandemia”, informou à época a publicação alemã DW (Deuteschw Welle) em sua seção para o Brasil.

Ontem, em sua conta no Twitter, Hallal afirmou que “a mortalidade no Brasil é 5x maior do que a média mundial”, o que tem repetido em sucessivas entrevistas.