DEMONIZAR A RÚSSIA – POR NORMANDO RODRIGUES

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DEMONIZAR A RÚSSIA

O país de Lênin enfrenta a pior recessão dos últimos 6 anos, na qual o PIB encolheu 3,7% em 2015 como resultado direto do dumping petrolífero. A guerra dos preços foi um passo a mais nas sanções contra a Rússia, iniciadas pelo Império Americano a partir da reanexação da Crimeia (originalmente russa de 1783 a 1954). Em paralelo, os norte-americanos intentam desconstruir a legitimidade do presidente Vladimir Putin.

No último dia 21 de janeiro um juiz inglês divulgou o resultado de investigação criminal cujo relatório declarou que Putin “provavelmente sabia” do complô para envenenar com Polônio o ex-espião e desafeto Alexander Litvinenko, em Londres, no ano de 2006. Independentemente da culpa de Putin, a sanha ocidental por o criminalizar inovou o medieval Direito Penal do Common Law, ao criar a categoria da “provável culpa”.

A obscuridade do Direito Anglo-Saxão, que já mereceu o adjetivo de “talmúdico”, cunhado pelo historiador Eric Hobsbwam, é notória – a não ser para os acríticos copiadores-importadores de modas, de nossas faculdades. Mas, convenhamos, “provável culpado” é um instituto que combina muito mais com as figuras de Iossif Stálin e Andrey Vyshinsky do que com aqueles emperucados e afetados Lordes da Justiça de Sua Majestade.

O URSO TAMBÉM FALA

Em 25 de janeiro um porta voz da Secretaria do Tesouro dos EUA declarou Putin corrupto, em entrevista à BBC. O cerne da acusação é beneficiar aliados políticos com contratos públicos, na área de energia, em detrimento de adversários. Prática que aquele templo de vestais, a Casa Branca, e sua empresa encarregada de espalhar Democracia e Liberdade pelo mundo, a CIA, abominam no discurso e na prática, não é mesmo?

No dia seguinte o petróleo tornou a cair abaixo de U$ 30.00 (tanto o Brent como o WTI) e arrastou o Mercado Financeiro: Shangai fechou a -6,5%. A “Guerra de Atrito” da Arábia Saudita (N.Y. Times de 27 de janeiro) visava derrotar rivais internos na OPEP (Irã, Iraque e Venezuela), e externos, como a Rússia e o gás de Xisto dos EUA. Ocorre que os árabes, mesmo os da aliada Casa de Saud, nunca confiaram nos EUA.

Dia 27 a Rússia anunciou estar perto de um acordo de redução da produção com a Arábia Saudita, e essa, por seu lado, mencionou tratados de investimentos recíprocos. Foi o bastante para elevar os preços do barril, de imediato, acima dos U$ 30.00, e fechar a cotação semanal em mais de 33 dólares. Se um mero diálogo inverte a tendência, ainda que temporariamente, é porque há muito de especulação em jogo.

INTERVENÇÃO EM DEFESA DO ESTADO

A Rússia respondeu às sanções do Ocidente com pesada intervenção estatal, especialmente na substituição de importações e no controle do capital especulativo. Ao contrário do oco discurso liberal, que tudo atribui aos investimentos em Educação, foi esse o bem sucedido caminho trilhado pela Coreia do Sul, há poucas décadas. Educação é tão essencial quanto a proteção ao mercado interno, numa economia globalizada e predatória.

Nesse 28 de janeiro o Banco Central do Japão agiu de modo semelhante, e adotou a política de taxa de juros negativa, o que na prática significa uma taxação sobre redepósitos dos demais bancos, e aplicações em títulos do governo. A ideia é blindar a monetarização da dívida pública, protegendo-a da volatilidade do mercado financeiro internacional, cujo epicentro as autoridades japonesas identificaram: o preço do petróleo.

A taxa de juros negativa capacita o Estado à retomada da iniciativa econômica, de modo que sua capacidade de investir mais do que compensa o desinteresse provocado no mercado. E o mais liberal dos mercados enxergou positivamente a medida japonesa. No dia seguinte The Wall Street Journal noticiou o impacto positivo da decisão nipônica na Bolsa de Nova Iorque. Enquanto isso o Brasil segue com a taxa básica de 14,25%.