Nos últimos anos, o Sindipetro NF tem mostrado muita resistência e organização na luta pelos direitos à saúde e segurança dos petroleiros próprios e terceirizados da Bacia de Campos. Quais foram os principais enfrentamentos do sindicato e dos trabalhadores com a Petrobrás e as empresas do setor privado?
O primeiro grande enfrentamento foi em 2001, quando fomos a justiça para garantir a nossa participação na comissão de apuração do acidente da P-36 , onde morreram 11 companheiros nossos. O objetivo não era punir ninguém, e sim tirar lições para que novos acidentes como aquele não voltassem a acontecer. Com o passar dos anos, incluímos no nosso ACT, a garantia de participação nas comissões de apuração de acidentes, e hoje, já temos mais de 30 cláusulas no capítulo de saúde e segurança.
O envolvimento do Sindipetro NF com os trabalhadores da Bacia de Campos foi grande, e diante disso, podemos constatar que em diversos momentos, os petroleiros tomaram a iniciativa de denunciar pendências em algumas unidades do Sistema Petrobrás. Como o Sindipetro NF avalia estas questões? É possível que num futuro próximo, a conscientização e o poder de mobilização dos trabalhadores possam mudar completamente esta situação?
O futuro está mais próximo do que se imagina e acreditamos nisso. Em 2001, quando ocorreu o acidente de P-36, o sindicato chamou a categoria a levantar as pendências de segurança nas unidades. Naquele momento, só cinco trabalhadores enviaram, no entanto, persistimos com os indicativos e mobilizações, até chegarmos ao número de 38 unidades em 2011, mais o terminal de Cabiúnas. A categoria tem visto o trabalho sério do sindicato, especialmente no tema segurança e saúde. Nesta trajetória, conseguimos construir o anexo 2 da NR-30, melhoramos as condições do transporte aéreo na Bacia de Campos , pactuamos um TAC(Termo de Ajuste de Conduta) com o MPT, combatendo as subnotificações de acidentes de trabalho, tudo isso junto à categoria, aliando poder de mobilização com negociação que é a nossa marca.
Como foi o enfrentamento do Sindipetro NF com a Petrobrás, quando a empresa proibiu o acesso dos diretores do sindicato ao saguão dos aeroportos de Macaé, onde normalmente acontecem as tradicionais conversas com os trabalhadores, no momento de embarque e desembarque.
Nem todo mundo está aberto ao recebimento de críticas. É muito mais fácil viver como Alice no país das maravilhas. Assim são alguns gestores da Petrobrás, que preferem se pautar por números maquiados de segurança, ao enxergar a realidade, que são as condições das nossas plataformas. Diante disso, fomos aos aeroportos, denunciar o equívoco gerencial na política de manutenção das plataformas, e dizer que algo deveria que ser feito naquele momento, antes que acontecesse uma nova fatalidade como a da P-36.
O que falta aos gestores da Petrobrás é encarar o tema saúde e segurança como prioridade e parar de tratar esta questão como propaganda. Desde o mês de setembro de 2010, estamos esperando a realização de um fórum sobre o tema, com o presidente da empresa, diretores e gerentes executivos, porém, parece faltar agenda para eles cumprirem o acordado com o movimento sindical. Enquanto isso, no mundo real do Sistema Petrobrás, acontecem mais mortes, mutilações, adoecimentos de trabalhadores e interdições de plataformas.
Em 2010, a assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho foi condicionada à suspensão das punições geradas após a greve nacional de 5 dias, realizada em 2009, pelos trabalhadores do Sistema Petrobrás.Essa questão foi deliberada pela I Plenária Nacional da FUP e referendada pela categoria nas assembléias. A empresa mostrou resistência às mobilizações dos petroleiros?
A empresa não contava com a solidariedade da classe trabalhadora e esqueceu que nós não deixamos companheiros feridos pelo caminho. Nós condicionamos a assinatura do ACT à retirada das punições, o que ocorreu de fato. Mais uma vez, parabénizo os trabalhadores pela consciência política, a FUP pela brilhante condução do processo, e aos sindicatos da FUP, que compraram uma briga que era do Sindipetro NF.
Como tem sido a adesão dos trabalhadores terceirizados na organização sindical? E quais foram as principais campanhas e conquistas do setor privado?
Hoje pactuamos acordos coletivos com mais de 23 empresas, temos mais de 700 filiados e realizamos recentemente, greves vitoriosas na Perbrás e Halliburton. Os acordos pactuados tem garantias acima do previsto na legislação. Ainda temos muito o que avançar, como igualar as jornadas dos petroleiros próprios com terceirizados, por isso, penso que esta questão deve ser prioridade neste momento. As 40 horas semanais para o pessoal administrativo, e 14 x 21 para os off-shore taambém estão na nossa pauta, da CUT e FUP. Por isso, vamos aliar mobilização com negociação para sermos vitoriosos.
Qual foi a plataforma política da Chapa 01 – Unidade e Luta, durante processo eleitoral realizado no mês de maio, nas bases do Sindipetro NF?
A nossa plataforma política foi baseada em falar a verdade, e não vender ilusões, como fizeram nossos opositores. Durante a nossa campanha, também tivemos como referência a CUT e a FUP, entidades construídas por nós, com muita luta. Diferente de nossos opositores, que esconderam da categoria que eram do PSTU. A defesa da vida também continuou fazendo parte das nossas propostas. Nossos opositores sempre criticaram as nossas políticas de combate ao caos da política de segurança da Petrobrás, e das empresas do setor, e por isso, até colocaram na chapa um médico que subnotifica acidente de trabalho. O Sindipetro NF defende e continuará lutando por um plano de previdência justo, e nossos opositores defendem que a base da pirâmide pague os altos benefícios do topo. Também revisitamos o PCAC, não com o caráter eleitoreiro dos nossos opositores, mas sim enxergando que a Petrobrás vai ter os seus profissionais assediados pelas operadoras que estão chegando, por isso, entendemos que esta revisão é urgente. A luta pelo terceirizado na sua plenitude (direitos, regime, jornada, salários) também é grande prioridade durante toda a nossa jornada de lutas. Diferente dos nossos opositores, que vêem nestes companheiros apenas como mais um voto. Para concluir é o olho no olho, é estar presente.
Como foi a participação dos trabalhadores durante as eleições? Os petroleiros novos conseguiram entender a importância do processo eleitoral para o sindicato e para os trabalhadores?
Olha, foram vinte e um dias de eleição, vinte e seis postos de coleta de votos, mais de cinco mil votantes, que representam 60% de filiados. A apuração aconteceu em tempo recorde, e com transmissão ao vivo pela Rádio NF. Só uma entidade bem administrada, consolidada e respeitada politicamente consegue tal feito. Os petroleiros do NF estão de parabéns.
As principais bandeiras de luta do sindicato para o próximo triênio também será focada na resolução das questões de saúde e segurança dos trabalhadores?
Vamos continuar fazendo uma política voltada para integridade dos trabalhadores, investindo na sua qualificação, com a realização de seminários, palestras e congressos sempre voltados para o tema segurança e saúde. A política de parceria com os órgãos de fiscalização (SRTE, ANP, MPT ) também se mostrou correta, então vamos investir em novas auditorias, chamando a categoria para realizar levantamentos das pendências de segurança, buscando sempre o fortalecimento e a credibilidade nos órgãos de fiscalização, pois isso representa a presença do estado fazendo cumprir as leis.
Qual a visão do Sindipetro-NF em relação à atual organização sindical?