Em setembro deste ano, o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) publicou um Diagnóstico Setorial da Bacia de Campos que apontava a necessidade de investimentos nesta região produtora, assim como a sua viabilidade enquanto negócio. O anúncio recente, pela Petrobrás, de investimentos de US$ 22 bilhões confirmou essa tendência.
Em entrevista à Imprensa do NF, o pesquisador do Ineep, Francismar Ferreira, que foi o responsável pelo diagnóstico (disponível na íntegra no final da página), avalia o anúncio pela Petrobrás e atualiza as suas impressões sobre a revitalização da Bacia de Campos.
Confira:
Imprensa do NF – Em setembro deste ano, o Ineep publicou um Diagnóstico Setorial da Bacia de Campos, apontando que, embora com campos maduros, a região ainda possui grande potencial de exploração. Como você viu, então, a confirmação dessa perspectiva vinda da própria Petrobrás, com o anúncio de investimentos pela revitalização da Bacia?
Francismar Ferreira – Observamos como um ponto importante que sinaliza uma nova perspectiva da Petrobras em relação à Bacia de Campos, onde a empresa não pretende vender ou devolver campos, como ocorreu entre 2016 e 2022. Pelo contrário, busca avançar no desenvolvimento do potencial da bacia por meio da revitalização de ativos e de avanços exploratórios.
Imprensa do NF – O investimento anunciado para a Bacia de Campos, de US$ 22 bilhões até 2028, parece suficiente para Ineep?
Francismar Ferreira – O investimento de US$ 22 bilhões anunciado no Plano Estratégico 2024-2028 representa um aumento de aproximadamente 22% em relação ao plano anterior, 2023-2027, no qual o investimento previsto para a Bacia de Campos foi de US$ 18 bilhões. Esse incremento é significativo e reflete uma nova perspectiva da Petrobras para a Bacia de Campos. Entretanto, é fundamental que o aumento dos investimentos seja acompanhado por uma abordagem estratégica que considere a cadeia nacional de óleo e gás. Dessa maneira, o investimento previsto pode se tornar um fator multiplicador, contribuindo não apenas para a manutenção e ampliação dos níveis de produção, mas também para o desenvolvimento econômico e a geração de empregos.
Imprensa do NF – De algum modo os anúncios de revitalização reposicionam as análises do Ineep em relação à Bacia de Campos?
Francismar Ferreira – Assim como apresentado no diagnóstico, é importante que os investimentos anunciados pela Petrobras para a Bacia de Campos sejam articulados com a indústria nacional, assim como com a transição energética. Dessa maneira, esses investimentos podem gerar benefícios econômicos duradouros para o norte fluminense e facilitar sua inserção em novas rotas tecnológicas, especialmente na produção de energias renováveis de baixo carbono. Logo, é importante revisar as estratégias de contratação de plataformas, priorizando a contratação de plataformas próprias em vez de afretadas, além de avançar em pesquisas e projetos de descarbonização das operações da Petrobras, como o desenvolvimento de hubs de CCUS e em novas rotas tecnológicas em energias de baixo carbono, como eólica offshore, visando à transição energética e à diversificação do portfólio energético da Bacia de Campos.
Imprensa do NF – Eventuais reveses políticos podem alterar este rumo de revitalização. Isso de algum modo é precificado pelo mercado de petróleo. A médio prazo, na avaliação do Ineep, esta meta de revitalização deve se manter com consistência?
Francismar Ferreira – Olhando para o futuro, no médio prazo, é possível identificar uma relativa consistência nos projetos de revitalização da bacia fundamentada em razões técnicas. A Petrobras apresenta uma relação entre reservas e produção estimada em 12,2 anos. Portanto, para manter seus níveis de produção e garantir a segurança energética nacional, são essenciais os investimentos exploratórios e na recuperação de campos maduros. Nesse contexto, a Bacia de Campos, após 50 anos da primeira descoberta, pode ser considerada estratégica para a Petrobras. Trata-se de uma bacia que possui uma infraestrutura de produção e escoamento bastante desenvolvida, cuja produção pode ser prolongada por meio dos projetos de revitalização. Além disso, apresenta possibilidades exploratórias com menor complexidade de licenciamento em comparação com as bacias da Margem Equatorial, por exemplo. Assim, considerando que a Petrobras está em um momento que demanda a reposição de suas reservas e as incertezas relacionadas à Margem Equatorial, os investimentos na Bacia de Campos tornam-se, de certa forma, fundamentais para a companhia. Por consequência, podemos deduzir a relativa consistência dos projetos. No entanto, as incertezas quanto ao cenário político futuro poderá reabrir possibilidades para políticas neoliberais com uma visão de curto prazo, baseadas exclusivamente no retorno financeiro imediato. Isso pode colocar em questão não apenas os projetos de revitalização da Bacia de Campos, mas também a própria Petrobras.
Confira a íntegra do diagnóstico da Bacia de Campos
diagnostico-da-bacia-de-campos-caracteristicas-desafios-e-possibilidades-docx (1)
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