Nascente 1147

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EDITORIAL

Setenta mil mortos

Na próxima semana o Brasil deve ultrapassar o número de 70 mil mortos pela covid-19. Até o fechamento desta edição do Nascente, o último dado oficial superava os 66 mil. Uma sociedade que “naturaliza” algo tão brutal e tolera a omissão de um governo genocida precisa se repensar. Vocalizada pelo “Cidadão não, engenheiro”, a arrogância suicida, ou a crença numa superioridade inatingível até por uma pandemia, continua a nos causar velhos danos.

O diagnóstico é por demais conhecido. Como diz a canção, a lição sabemos de cor, só nos falta aprender. A nossa formação histórica em raras situações cultivou a solidariedade, a empatia, quase sempre presente apenas nos laços de sobrevivência que os mais pobres mantêm. Nosso traço mais marcante é o da violência das elites contra o povo. Um legado da escravidão e de uma República que não enfrentou de frente necessidades básicas civilizatórias como a Reforma Agrária e a implementação de um sistema político que realmente incorpore as massas. O maior esforço neste sentido, a Constituição de 1988 — com seus conselhos paritários, audiências públicas, garantias sociais — ainda está inconclusa e sob ataque permanente.

A diferenciação — racial, de gênero ou de classe — é conservada em meticuloso esforço de discurso e de repressão. O discurso dominante em seu formato atual é o do “empreendedorismo” e o da “meritocracia”, ambas ideias assentadas em lógica pueril individualista, assim como as pregações religiosas que também colocam no plano individual a possibilidade de “salvação”. E quando isso não basta para nos manter atomizados, em guerra uns contra os outros, a repressão pura e simples se volta contra os que se levantam coletivamente, o que faz dos nossos “liberais” parceiros tão frequentes de ditaduras.

O Estado de Bem Estar Social, o acesso a serviços públicos universais e de qualidade, a vitalidade dos protestos de rua, a grande formação política dos cidadãos, que os viajados mais abastados do Brasil gostam tanto de elogiar nos países europeus, são negados internamente, para que a patuleia não ouse derrubar os privilégios do mundo do “sabe com quem está falando?”. Greve bonita é na França. Aqui é coisa de vagabundo que está liberado para apanhar da polícia.

O único lado bom dos tempos em que vivemos é a exposição crua de toda a nossa vilania. Nossa única esperança é aprendermos com tudo isso.

 

ESPAÇO ABERTO

2013 e a extrema direita*

Marcio Kieller**

Qualquer cidadã ou cidadão que acompanhe um pouco o desenrolar da crise política em que vivemos e que tenha um mínimo de bom senso e discernimento histórico nos dias atuais, consegue ligar os pontos e perceber que o resultado que teremos dessa briga política é fruto de uma ardilosa manobra da direita organizada no país para derrotar a qualquer custo uma seqüência de governos democráticos e populares que vinham se sucedendo nas eleições gerais a partir de 2002. E se utilizou para isso das ditas “Jornadas de Junho” de 2013.

E como reflexo dessa manobra surgiram às condições para a criação de uma extrema direita no Brasil. E se nos debruçarmos e observarmos os acontecimentos mais recentes veremos que ela tem como alvo hoje, não prioritariamente os setores democráticos e progressistas da sociedade. Afinal deles essa extrema direita precisa para viver, melhor para sobreviver, mas sim a própria direita que a criou. Para tentar liquidá-la de uma vez por todas e assumir seu lugar na luta política de classes no Brasil.

E com esse receituário de rompimento da democracia em 2016 a direita inconformada plantou literalmente as raízes do ódio, do extremismo político que é diariamente vociferando nas ruas por essa extrema direita que lhe tomou o lugar e o espaço político.

Os setores progressistas e democráticos da sociedade se mantêm fortes e na luta pela construção de uma sociedade mais igual, justa e fraterna. Continuam levantando alto a bandeira da defesa da vida, da defesa dos direitos e dos empregos, nesses tempos de pandemia mundial. Mas a briga política que estampa os jornais e tem lugar nas bancadas de telejornais pelo país a fora hoje, não é a histórica luta de classes e sim a disputa ideológica de uma extrema direita que tenta a todo custo derrotar a velha direita que lhe forjou.

* Trecho de artigo publicado originalmente no Portal da CUT, em is.gd/eanascente1147, sob o título “As jornadas de junho de 2013 e o surgimento da extrema direita no Brasil”. ** Presidente da CUT/PR e mestre em Sociologia Política pela UFPR.

 

GERAL

Confup: Categoria segue a sua agenda

Das Imprensas da FUP e do NF

Depois da realização dos congressos regionais, entre eles o XVI Congrenf, do Norte Fluminense, a categoria petroleira dará mais um passo na Campanha Reivindicatória 2020 com a realização, na próxima semana, do 18º Congresso Nacional da FUP (Confup). Nesta ano, o desafio é ampliar e fortalecer as lutas pela retomada da democracia e reconstrução do Sistema Petrobrás. O evento acontecerá de forma totalmente online entre os dias 15 e 19 de julho.

O Confup é o principal fórum de deliberação da categoria, onde são discutidos e aprovados encaminhamentos políticos, pautas de reivindicações e planos de luta que foram deliberados durante os congressos estaduais, realizados pelos sindicatos filiados. O 18º Confup também irá eleger a nova diretoria da FUP para o período 2020-2023 e aprovar estratégias de luta para barrar as privatizações no Sistema Petrobrás e o desmonte do Acordo Coletivo de Trabalho.

Ordem do dia

Questões que estão na ordem do dia dos trabalhadores e trabalhadoras, como saúde e segurança, efetivos, teletrabalho, tabelas de turno, AMS, Petros, liberdade e autonomia sindical, serão discutidas e deliberadas durante o congresso, que tem como tema “Democracia, Empregos e Revolução Digital”.

A defesa da democracia e dos direitos e conquistas sociais, que estão sob ataque em plena pandemia da covid-19, também pautará o debate dos petroleiros e petroleiras.

“Precisamos construir uma frente de esquerda programática e uma coalização democrática mais ampla para derrubarmos esse governo antes que ele acabe com o Brasil e os brasileiros”, ressalta o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Programação em breve

O 18º Confup terá a participação de 280 trabalhadores eleitos nos congressos regionais, além de assessorias e convidados. As mesas temáticas e a programação completa serão divulgadas nos próximos dias. Parte da programação será aberta ao público, por meio de lives em redes sociais. Debates estratégicos da categoria serão realizados apenas entre os delegados e delegadas, em plataformas digitais fechadas.

 

Teletrabalho: Termo da empresa traz riscos

O Sindipetro-NF orienta a categoria petroleira a aguardar deliberações coletivas e a não assinar o termo que a Petrobrás está impondo aos petroleiros e petroleiras sobre o teletrabalho. A empresa, de modo unilateral, sem negociar com os sindicatos, alterou a forma de trabalho durante a pandemia e está oferecendo R$ 1 mil para compra de mobiliário de escritório para ser utilizado em casa.

“É importante que os trabalhadores e as trabalhadoras não assinem esse termo. Deliberamos no Congrenf na semana passada, e também vamos discutir esse assunto no Confup que acontece a partir do próximo dia 15. Isso tem que ser negociado coletivamente com a empresa, para virar cláusula no Acordo Coletivo de Trabalho”, alerta o coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.

O sindicato adverte que o termo traz riscos jurídicos para a categoria e não pode ser imposto ou aceito individualmente. A FUP e as entidades sindicais têm alertado que a própria adoção do teletrabalho só poderia ser implementada por meio de negociação. Do modo como foi feito, descumpriu o Acordo Coletivo de Trabalho.

Um dos pontos que tem sido questionado pelo movimento sindical é a tentativa de a empresa se isentar de problemas com a ergonomia, por meio do subsídio de R$ 1 mil para compra de mobiliário. Também são questionados gastos com equipamentos e contas de energia elétrica e internet.

“É um impacto muito grande, atinge a todos. Não pode ser visto como solução individual. É uma questão coletiva e a categoria deve estar unida para pressionar por negociações com as suas representações”, afirma o coordenador de comunicação do Sindipetro-NF, Rafael Crespo.

Em medida tomada sem negociação, a Petrobrás colocou em home office a maior parte dos seus trabalhadores administrativos, com redução de 25% no salário. Petroleiros e petroleiras de plataformas e refinarias que se enquadram no grupo de risco também foram atingidos, com reduções nas remunerações que chegam a 49%. As reduções de salários, feitas de modo ilegal, foram suspensas por meio de liminar obtida pelo Sindipetro-NF.

Bacia tem nova perda para covid

Os petroleiros e petroleiras do Norte Fluminense estão de luto pela morte, no último dia 27, do petroleiro Nelson dos Santos Fontoura, 59 anos, que era recém aposentado da P-15 e filiado ao Sindipetro-NF. Nelson foi vítima da covid-19. O trabalhador deixou esposa e dois filhos.

O Sindipetro-NF lamenta a morte do companheiro e manifesta as suas condolências aos familiares, amigos e companheiros de plataforma. Em sua homenagem, um colega de trabalho escreveu: “Assim que vou me lembrar sempre de você meu amigo: sorrindo! Lembrar de nossas conversas e brincadeiras a bordo, das madrugadas fechando medição, de tudo que aprendi com você, que foi amigo, foi professor e foi até um pai protetor nos meus primeiros embarques”.

 

Fora Bolsonaro: Participe de mobilização nesta sexta

Das Imprensas do NF e da CUT

As frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo lançam nesta sexta, 10, a Campanha ‘Fora, Bolsonaro’. Junto a centrais sindicais e partidos de oposição, será realizado um Dia Nacional de Mobilização. De acordo com o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, a mobilização tem como objetivo debater com a sociedade as crises econômica e sanitária e o fato de que uma mudança só será possível com outro governo comprometido com os trabalhadores.

A mobilização terá ações nas redes sociais (com um tuitaço #ForaBolsonaro), atividades de rua simbólicas e um panelaço para denunciar e dialogar com a população que é preciso acabar com este governo, antes que ele acabe com mais vidas, direitos e até com a democracia do Brasil.

 

Mais de 30t em doações do NF

O combate à fome é uma questão emergencial para governos sérios e organizações humanitárias. Durante uma pandemia, onde há um número crescente de desempregados e as condições de miséria se aprofundam, essas ações se tornam ainda mais urgentes.

Por reconhecer essa necessidade, a diretoria do Sindipetro-NF decidiu, desde o início da pandemia do coronavírus, atuar junto às comunidades de Macaé e de Campos dos Goytacazes, distribuindo cestas básicas para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Desde o início de abril, o Sindipetro-NF doou 1250 cestas básicas na região. Como divulgado em uma notícia de abril no Nascente, o sindicato procurou igrejas, diversas entidades filantrópicas e os movimentos sociais, entre eles o MST e o MAB, para garantir uma distribuição direcionada a quem realmente necessita. A entidade também realizou uma distribuição direta para famílias carentes de localidades das duas cidades. Foram doadas ainda 100 cestas em parceria com o MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) no Rio de Janeiro. Foram mais de 30 toneladas de alimentos doados.

Além da doação de alimentos, o Sindipetro-NF está entregando máscaras de proteção e sabonete líquido produzido em parceria com o IFF de Campos. “Nesse momento tão crítico para nossa sociedade, a solidariedade da categoria petroleira se faz necessária, principalmente nas cidades onde atuamos e vemos a fome bater na porta das pessoas”, explicou o coordenador do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.

 

CURTAS

Ato em Brasília

Centrais realizam ato em Brasília, ontem, em frente ao Ministério da Economia, em defesa do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 até dezembro. O movimento sindical também cobra políticas que preservem o emprego e a renda dos trabalhadores, mas com proteção à vida. O protesto foi realizado presencialmente com dez dirigentes de cada uma das maiores centrais do país, e participação virtual da militância por meio de aplicativo.

Lavajatices

Diretor do Sindipetro-NF e da FUP, o petroleiro do Norte Fluminense Tadeu Porto participou ontem do programa Fórum Sindical, com Maria Frô e Rudá Ricci. Também integraram o debate o ex-ministro da Justiça do governo Dilma, Eugênio Aragão, e o jornalista Luís Nassif. Em pauta, a “lava-jato e os crimes contra a soberania Nacional: Petrobras e Odebrecht”. Assista em www.youtube.com/forumrevista.

Greve de 83

A categoria petroleira lembrou nesta semana a passagem dos 37 anos da greve que foi decisiva para derrubar a ditadura civil-militar iniciada em 1964. Em 5 de julho de 1983, petroleiros da Replan/SP iniciaram o movimento, que teve adesão imediata da Rlam/BA. “Foram sete dias de enfrentamento, em um movimento essencialmente político contra a ditadura, cujo estopim foi um decreto do general João Batista Figueiredo, para cortar direitos”, lembrou matéria (is.gd/greve83) do Sindipetro-BA.

Petros

Por conta de problemas no site da Petros, o prazo para quitação das parcelas do PED 2015, da Petros, não pagas, devido a liminares foi estendido até às 12h de hoje. Esse prazo de opção originalmente se encerraria ontem, às 22h. Segundo o Conselheiro Deliberativo, Norton Cardoso Almeida, no site da Petros é apresentado aos participantes e assistidos opções de pagamento a vista e de parcelamento.

NORMANDO

Direito de infectar

Normando Rodrigues*

Bolsonaro, enfim, testou positivo para Covid-19. Essa é a novidade.

Bolsonaro, contudo, ainda apregoa o não uso da máscara. Essa é a continuidade.

Há absoluta falta de empatia na defesa irrestrita do direito de infectar o próximo. Uma repulsa ao outro, um nojo pela humanidade, que desqualifica Bolsonaro para liderar qualquer outra coisa que não seja um campo de extermínio.

Genocida

Entre sintomas, “cura” e ressurgimento, 108 servidores da presidência da República foram contaminados pelo novo coronavírus. E certamente não o foram por quem usa máscara e segue as recomendações sanitárias.

É uma reprodução ampliada da comitiva que em março voltou de Miami com Bolsonaro, suvenires de mau gosto, e 18 infectados.

Numa escala ainda maior, do tamanho do Brasil, o resultado dessa postura está perto de 70 mil mortos, apenas em números oficiais, e um prolongamento do isolamento social que deriva não do vírus em si, e sim da falta de seriedade com que é enfrentado.

Imbecil

O Brasil nunca teve um presidente que matasse tanto. Mas aguardem. O “gênio” que saiu da Aman explicando sua profissão como ciência de “matar gente”, e que entende ser sua missão na presidência “desconstruir muita coisa”, fará mais.

Justiça seja feita, o mal que aflige o Brasil transcende a individualidade imbecil do presidente homofóbico que afirma que “máscara é coisa de viado”. Bolsonaro faz o que faz, e é aplaudido, por conta do individualismo.

Individualismo estúpido, que ignora sermos, cada um, seres sociais. Nascemos, nos desenvolvemos e morremos, em sociedade. Todos a depender de todos. No entanto, 30% dos brasileiros deixaram a condição humana para se tornar “umbigos”.

Vacina

O “umbigo” se acha superior, e é mais fiel ao umbigocentrismo do que ao terraplanismo. Quer ser chamado de “doutor”, e contesta qualquer autoridade. No fim do dia orgulha-se de quantas vezes disse “sabe com quem tá falando?”

O umbigo não quer pagar impostos, só divide o que tem em restos de mesa, ou no ofertório, e entende mais de saúde pública do que os sanitaristas. Do fundo de seu abissal desconhecimento, o umbigo acredita que não usar máscara só diz respeito a ele, e não à sociedade.

Há quase 120 anos a população pobre do Rio de Janeiro, perseguida e escorraçada para fora do Centro, se revoltou contra a obrigatoriedade da vacina da varíola. Somava-se à revolta legítima a pura ignorância quanto à imunização.
Hoje a ignorância está assentada na cadeira da presidência da República.

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]

 

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