Nascente 1158

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EDITORIAL

Nem para Pinóquio serve

Em razão do seu discurso mentiroso na Conferência da ONU, Jair Bolsonaro foi relacionado ao boneco Pinóquio, aquele da história infantil, em inúmeras charges nesta semana. A realidade, no entanto, é mais cruel: o presidente brasileiro nem para Pinóquio serve. O simpático personagem de madeira, criação do marceneiro Gepeto, embora fosse um contumaz mentiroso em suas aventuras, tinha um bom coração e isso o redimiu. Bolsonaro não possui sequer esse atributo essencial aos humanos e aos personagens que geram empatia dos leitores.

O discurso do sociopata precisou ser verificado por agências de checagem e, bingo!, trouxe uma série de fakes, alguns “não é bem assim” e um ou outro fato para não ficar tão nonsense — a propósito, todo fake utiliza-se de uma premissa verdadeira para ser desdobrado em uma mentira absurda, e nisso reside a sua mais potente estratégia de engajamento.

Muitos colunistas progressistas, muitos analistas, identificaram as várias mentiras de Bolsonaro no discurso. Para sermos conservadores, tomemos aqui o trabalho do “Fato ou Fake” (formado por profissionais de redações de veículos do grupo Globo, que de qualquer maneira são comunistas para a bolha bolsonarista, mas isso não importa para os lúcidos leitores do Nascente).

Eles separaram sete declarações mais fortes da fala de Bolsonaro (is.gd/fatofakeg1), especialmente as que continham números, e confrontaram com dados confiáveis, muitos do próprio governo, e chegaram à conclusão de que duas eram realmente fatos (a de que o Brasil emite 3% do carbono e a de que o país participou de mais de 50 missões de paz), duas mereceram um “não é bem assim” (isolamento como responsabilidade apenas dos governadores e auxílio de mil dólares) e três eram pura e simplesmente fakes (caboclo e índio que queimam a floresta, queimadas acontecem por altas temperaturas e a de que houve aumento dos investimentos estrangeiros no primeiro semestre).

Reconheçamos que não é novidade que a mentira seja utilizada como arma política (e de guerra), mas nunca ela foi tão cinicamente sustentada, a despeito de todas as evidências em contrário. No passado, quando desmascarados, governantes se retratavam, ou até mesmo eram depostos. Hoje, no universo paralelo de Trumps e Bolsonaros, o real tem sido cada vez menos necessário, ao menos em suas bolhas. Mas, como na história do Pinóquio, a verdade prevalecerá no mundo do bom senso e da solidariedade.

 

ESPAÇO ABERTO

Sentir a dor do outro*

Deyvid Bacelar**

Eu e Áttila [Barbosa, diretor do Sindipetro-BA] estivemos no funeral do companheiro E. e vimos pessoas da Refinaria [Rlam] e muitas outras que não conhecemos. Estávamos ali, com o coração partido, para prestar a última homenagem ao bom e alegre jovem que fez sua caminhada pela estrada da vida. Muito triste ver a família e amigos desolados sem entenderem o que aconteceu antes e na manhã da trágica terça (22/09).

Infelizmente, trata-se de uma doença silenciosa que gera a morte de 1 pessoa a cada 45 minutos, aqui no Brasil, e que é tratada, ainda, com preconceito e chacota por muitas pessoas.

Sei bem o que é passar por um quadro de depressão e só não ter chegado ao fundo do poço por conta de familiares e amigos terem percebido alguns sinais, há tempo, e eu ter buscado apoio profissional que me ajuda a seguir em frente, até hoje.

Estou muito triste com tudo o que está acontecendo no nosso Mundo, Brasil e na nossa Petrobrás. E percebi em conversas que tenho tido com várias pessoas próximas a Erasmo, que fatores relacionados ao trabalho apareceram em todos os compartilhamentos de memórias e lembranças.

A crise econômica, política, social, a pandemia da covid-19, anúncios de privatizações e a saída da Petrobrás da Bahia e de boa parte do Brasil, tudo isso conjugado com as pressões da vida laboral — num ambiente com efetivo extremamente enxuto, com diversos problemas de manutenção e gestão de pessoas, potencializados pelas decisões de uma cúpula da Petrobrás, na sua Diretoria Executiva e Conselho de Administração — pode ocasionar uma verdadeira implosão nas pessoas que trabalham e amam a maior empresa do Brasil.

Sei que “amanhã há de ser outro dia”, mas esse outro dia só nascerá se o silêncio dos bons não prevalecer! Só teremos um novo amanhecer, se tivermos a capacidade de observar os que estão ao nosso redor e sentir um pouco a dor do outro.

*Trecho editado de post do autor. **Coordenador geral da FUP.

 

Petrobrás confina trabalhadores com fome no Heliporto

A gestão da Petrobrás para o setor aéreo está parecendo sinal de internet via rádio: desaparece quando chove. Associada ao comportamento unilateral da empresa para as políticas que adota sobre a prevenção à covid-19, a situação se agrava. Foi o que aconteceu na última terça, 22, no Heliporto do Farol de São Thomé. A previsível piora das condições meteorológicas, que levou ao também previsível cancelamento de 60% dos voos, provocou a submissão de petroleiros e petroleiras a um confinamento em um saguão lotado sem que tivessem acesso a alimentação.

Os trabalhadores relataram ao Sindipetro-NF que a gestão da empresa não forneceu alimentação e proibiu que os trabalhadores saíssem para comprar qualquer alimento. “O que percebemos sempre nesses momentos de crise é que a logística não funciona e a Petrobrás não dá os devidos esclarecimentos à categoria. A desinformação é geral”, disse o coordenador do Departamento de Saúde do sindicato, Alexandre Vieira.

A diretoria do NF atesta que a falta de planejamento e infraestrutura, que há anos tem causado transtornos para a categoria petroleira, piorou com a nova gestão e se intensificou com a pandemia. A empresa insiste na adoção de um protocolo para a covid-19 sem ouvir a direção sindical e causa ainda mais sofrimento aos trabalhadores.

NF faz cobrança à gestão

Em contatos com gestores da Petrobrás, o sindicato exigiu um posicionamento da empresa. A cobrança foi reforçada em reunião na tarde da última quarta, 23, com o grupo de Estrutura Organizacional de Resposta (EOR), que trata dos temas relacionados à covid-19 na companhia. No final da reunião, quando foram abertas as falas para questionamentos dos sindicalistas sobre assuntos que não estavam originalmente em pauta, Vieira disse aos RHs da empresa que considerava absurdo o tratamento dado aos trabalhadores no Heliporto do Farol e cobrou explicações.

O sindicalista relatou que os empregados deixaram o hotel para o embarque às 5h40, passaram todo o dia no Heliporto sem alimentação e retornaram ao hotel às 20h15. Vieira também questionou as condições do hotel sobre a prevenção à covid-19. Os gestores da empresa ficaram de responder na próxima semana aos questionamentos feitos pelos sindicalistas — sob alegação de que haviam ultrapassado o tempo destinado ao encontro e tinham outros compromissos.

O NF reforça com a categoria petroleira a necessidade de que informações sobre este caso e também sobre outros que envolvam habitabilidade, saúde e segurança sejam enviados para o e-mail [email protected].

Petroleiros de P-33 ficam sem telefonia

O Sindipetro-NF recebeu nesta semana uma denúncia que os trabalhadores de P-33 estão sem cabine telefônica privativa para se comunicar com terra. A plataforma tinha dois telefones nas salas dos operadores para ligações externas, duas cabines de uso exclusivo dos empregados da Petrobrás (com temporizador para 10 minutos) e duas cabines para empregados terceirizados (uma com tempo liberado e outra cabine também temporizada 10 minutos). A cabine dos terceirizados com tempo liberado não tinha ventilação por isso os usuários não passavam mais de 5 minutos no interior por causa do calor.

No meio de uma pandemia, quando as pessoas estão tendo que ficar a bordo mais tempo que o normal, por conta das jornadas aumentadas, o gerente setorial cortou a cabine temporizada dos terceirizados e há cinco dias cortou os dois telefones da sala dos operadores e as duas cabines dos empregados Petrobrás. Ou seja, deixou as pessoas a bordo sem comunicação via telefone com seus parentes e amigos, demonstrando a total falta de humanidade do gestor.

O NF lembra que a NR 37.14.8.2 determina que “A área de vivência a bordo deve possuir cabines telefônicas individuais” e detalha as formas de disponibilidade do serviço. A diretoria do sindicato cobrou da gestão o cumprimento da norma na P-33 e lamenta a atitude do gerente, que não reconhece que o trabalho confinado já causa mudanças na vida das pessoas, distancia-mento da família e de entes queridos em tempos normais, o que se agrava em tempos de uma crise sanitária mundial.

 

FUP cobra política de saúde mental

Da Imprensa da FUP

A reunião desta quarta, 23, com o grupo de Estrutura Organizacional de Resposta da Petrobrás (EOR) começou com um minuto de silêncio, a pedido da FUP, em homenagem ao petroleiro da Rlam, cuja morte trágica abalou os trabalhadores em todo o Sistema Petrobrás. Os dirigentes sindicais enfatizaram a necessidade da gestão tratar com a devida importância e atenção a saúde mental dos trabalhadores, que estão sob forte estresse há muito tempo, por conta do futuro incerto que vivem em consequência do desmonte da empresa. A pandemia agravou ainda mais os problemas e os conflitos.

A FUP ressaltou que a Petrobrás não pode tratar esses fatos como tabu e que já passou da hora da empresa discutir com os trabalhadores uma política de saúde mental. A entidade cobrou uma reunião específica para discutir esse ponto, ressaltando que o Acordo Coletivo de Trabalho prevê ações nesse sentido [Cláusula 79].

 

PLR 2021: Começa negociação de regramento

Da Imprensa da FUP

A FUP participou na terça, 22, da primeira reunião com o RH da Petrobrás para dar início à negociação de regras e parâmetros para a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de 2021, com pagamento em 2022.

A empresa apresentou uma proposta de calendário com rodadas semanais de negociação durante todo o mês de outubro e pouco prazo depois para debate com os trabalhadores.

Foi questionado o engessa-mento dos prazos propostos pela Petrobrás, bem como a ausência das subsidiárias na reunião. A FUP enviou à empresa uma nova proposta de calendário, com duas reuniões semanais de negociação durante a primeira quinzena de outubro e cobrou que todas as empresas do Sistema estejam presentes nas próximas rodadas de negociação.

A negociação do regramento da PLR está prevista no Acordo Coletivo de Trabalho 2020/2022 pactuado com a FUP e seus sindicatos.

Dois anos de embate

Desde 2018, as entidades sindicais vêm tentando negociar com a Petrobrás parâmetros para o provisionamento e distribuição da PLR, que sejam equivalentes ao Acordo de Regramento pactuado em 2014, que teve validade até março de 2019.

Durante as negociações, ainda em 2018, a empresa insistiu em vincular a PLR ao Sistema de Consequências, o que foi rejeitado pela categoria em assembleias.

No ano passado, a Petrobrás encerrou as negociações já no primeiro semestre e, unilateralmente, implementou o Programa de Prêmio por Performance (PPP). Logo após a mediação do ACT no TST, a FUP apresentou à empresa uma proposta de PLR que mantinha os pontos acordados nas negociações de 2018, alterando apenas a cláusula que previa punição aos trabalhadores envolvidos no que os gestores chamam de “conflito de interesse” e “danos patrimoniais”.

A Petrobrás, no entanto, apresentou uma outra proposta que alterou toda a essência do regramento que havia sido negociado com a FUP e manteve a vinculação da PLR com o sistema de consequências.

Além disso, a empresa impôs menos de 30 dias para o fechamento do acordo, à revelia da Medida Provisória 905, que estabeleceu que as regras para o pagamento da PLR podiam ser definidas em até 90 dias antes da data estabelecida para a sua quitação. Isso alteraria a negociação, mas a gestão se recusou.

Remuneração: Primeiro passo com vitória

O Departamento Jurídico do Sindipetro-NF divulgou nesta semana que a Petrobrás foi condenada, no último dia 18, em duas ações movidas pela entidade, a manter a remuneração integral do pessoal dos regimes de turno, sobreaviso, e administrativo. “Estes trabalhadores tiveram reduções brutais sob pretexto da “resiliência”, de modo ilícito, em ato unilateral da empresa. E ao mesmo tempo a empresa aumentou a remuneração de Castello Branco e diretores”, relatou o Jurídico.

A entidade mostrou que a Petrobrás violou a Constituição, a CLT, e o Acordo Coletivo de Trabalho, como reconheceu o judiciário. A empresa, no entanto, ainda pode recorrer ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT1) e ao Tribunal Superior do Trabalho (TST).

“Ao final, mantidas as sentenças, cada associado do Sindipetro-NF empregado da Petrobrás, que teve redução da remuneração a partir de abril de 2020 por conta das “medidas de resiliência”, receberá de volta, com juros, a diferença entre o que recebeu e o que deveria receber”, explicou o Departamento Jurídico.

Responsabilização

“Declarada a nulidade da redução da remuneração, ficará configurado que a Petrobrás sofreu prejuízo (juros, custo do processo, etc) por uma decisão ilícita de seus administradores. Cabe, então, outra ação para que diretores, gestores e membros do conselho de administração envolvidos na deliberação de cortar salários dos trabalhadores – e aumentar os próprios salários, lembremos – sejam responsabilizados, e devolvam à Petrobrás o que ela gastar”, complementou o Jurídico.

CURTAS

Petrobrás Fica

Após o presidente do STF, Luiz Fux, ter suspendido o julgamento da ação que contesta a venda de ativos da Petrobrás sem autorização legislativa, o Senado e a Câmara reforçaram o pedido para que o Tribunal suspenda os processos de privatização das refinarias que estão em curso. O risco é que as vendas sejam consumadas antes que o STF se posicione. A empresa transformou estes ativos em subsidiárias para tentar driblar a necessidade de autorização do legislativo.

Tem que ficar

O coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, promete pressão: “continuaremos pressionando, fazendo ecoar a campanha Petrobras Fica e intensificando as ações em conjunto com os parlamentares. Desde a greve de fevereiro, quando nos reunimos com os presidentes da Câmara e do Senado, temos denunciado que o governo e os gestores da Petrobrás estão burlando a exigência legal”.

Cabo Frio

Além da cobrança sobre o caos no Heliporto do Farol de São Thomé, o Sindipetro-NF registrou na reunião do grupo de EOR cobrança sobre o Aeroporto de Cabo Frio. O diretor Alexandre Vieira chamou a atenção para a necessidade que sejam adotados protocolos mais rígidos no acesso ao saguão e à testagem. “O aeroporto de Cabo Frio precisa ter uma triagem como a do Farol, onde os trabalhadores não se misturam”, disse o sindicalista.

Franks

A diretoria do NF realizou no último dia 18 uma reunião setorial com os trabalhadores da empresa Franks, que têm data base em setembro. Ficou definido em reunião que os trabalhadores e trabalhadoras devem enviar suas sugestões de pauta até hoje, 25. Em seguida, o jurídico do sindicato irá montar a pauta e formalizar uma minuta do ACT, para iniciar as negociações com a empresa.

DISSECANDO A LAVA JATO Lançado nesta semana o documentário “A Lava Jato Entre Quatro Paredes”, realizado em parceria do Sindipetro-NF com a Normose. Dividido em quatro partes, o documentário mistura vídeo-ensaio e análise histórica. Além dessa série, irão ao ar também no canal da Normose no Youtube entrevistas com jornalista e diretor do The Intercept, Leandro Demori, e o advogado Thiago Anastácio,além de podcasts extras.

 

NORMANDO

A verdade fascista

Normando Rodrigues*

A mentira é absolutamente central no fascismo. Nem mesmo a idiotice suporta inteiramente a brutalidade, a desumanidade, a bestialidade dos adoradores da morte.

“Não, os judeus, ciganos e homossexuais, não foram para campos de extermínio.”

“Os comunistas foram presos, e estão sendo reeducados em campos de trabalho.”

“Depois da guerra os judeus serão realocados em Madagascar.”

Esta semana o grande líder do fascismo brasileiro foi á primeira assembleia geral virtual da história da Organização das Nações Unidas, para pleitear seu lugar na lata de lixo da história, e de modo nada virtuoso.

Fogo

“A floresta amazônica só pega fogo nas bordas.”

“O índio e o caboclo é que queimam a floresta.”

“O óleo derramado no litoral do nordeste é venezuelano, e o derramamento foi intencional.”

“O Brasil respeita as regras de preservação da natureza.”

“O Pantanal tem os mesmos problemas da Califórnia, e as grandes queimadas são naturais.”

“O governo pagou mil dólares por cabeça a 65 milhões de brasileiros.”

“Orientações para as pessoas ficarem em casa na pandemia ‘quase’ levaram o país ao ‘caos social.”

“O Brasil é um país cristão e conservador, e a ‘cristofobia’ deve ser combatida.”

Mentir e mentir

Não se trata de desconhecimento, embora a ignorância e a imbecilidade sejam características inafastáveis do “grande líder”. Trata-se de mentir conscientemente.

E errou feio quem concluiu que as mentiras de Bolsonaro visaram a comunidade internacional, investidores ou compradores de produtos brasileiros. Nem mesmo o mentecapto, ou seu chancelar terraplanista, acreditam nessa coleção de atrocidades.

As mentiras se dirigem somente aos 40% que apoiam a morte de 140 mil brasileiros por uma “gripezinha”, que aplaudem a destruição da natureza pelo agronegócio, e que acham lindo o país voltar a ser tratado como mero exportador subserviente de commodities de baixo valor agregado.

O incrível discurso de videogame ainda encontrou lugar para mais uma bajulação a Trump, exemplo de desonestidade e corrupção festejado pelo Planalto.

Os efeitos…

Não serão sentidos somente pelas futuras gerações. O fogo que queima a natureza, queima a sociedade, suas instituições, e tudo que nela existe, sem distinção. A indústria é o maior exemplo.

A participação da indústria no PIB brasileiro retroagiu a valores comparáveis à década de 1910. Bolsonaro, assim, dobrou sua promessa de campanha. O Brasil não recuou 50 anos, como ele queria, mas um século inteiro!

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]

 

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