Nascente 1411

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A SEMANA

Editorial

Émile Durkheim, um dos fundadores da Sociologia junto a Comte, Marx e Weber, pensador conservador que tinha por método um entendimento totalizante da sociedade (uma noção sistêmica que poderia ser traduzida por algo como “estamos todos no mesmo barco” somando as nossas diferenças em uma “solidariedade orgânica”), preconizava com a sua noção de “Fato Social” que o todo é maior do que a soma das partes. Constituímos saberes, tradições, costumes, que ficam maiores do que os indivíduos e nos determinam.

Não era bem assim, segundo Marx, com a sua noção de “Classe Social”, pelo menos não do mesmo modo para todo mundo, dependendo de que lado da tensão entre oprimidos e opressores você nasceu e vive. Mas vá lá que essa noção traga uma contribuição para coletividades específicas. O que importa aqui é que Beto Guedes e Ronaldo Bastos disseram a mesma coisa, só que lindamente: “um mais um é sempre mais que dois”.

É disso que se trata quando uma categoria, como a petroleira, é chamada a responder com grande participação ao chamado para lotar as assembleias nesta semana. Individualmente, algum trabalhador ou trabalhadora poderá pensar se fará diferença ou não, se precisa mesmo ir à assembleia, se já vai tanta gente, se não é melhor ele ou ela adiantar aquele relatório que está com o prazo apertado. Só que tanto para ausências quanto para presenças, como ensinou a canção, um mais um é mais que dois. A resultante de assembleias esvaziadas ou massivas não dizem respeito apenas ao número de indivíduos, mas ao que eles produzem em forma de recado político.

Como sempre afirmou o movimento sindical, as conquistas do acordo coletivo serão proporcionais à capacidade de luta. E a primeira sinalização de uma grande disposição para a luta é a presença massiva na assembleia. A hora é agora, de rejeitar a contraproposta que não atende aos trabalhadores e mostrar que haverá greve forte se a gestão da Petrobrás não mudar a sua forma de lidar com as demandas dos petroleiros e das petroleiras. Vamos precisar de todo mundo!

 

 

Risco extremo em vazamento na P-52

Os petroleiros e petroleiras da P-52 passaram por grande risco e apreensão, no último dia 22, durante ocorrência de vazamento de gás na unidade. O sindicato recebeu relatos de que foi formada uma grande nuvem de gás e a plataforma parou as operações. A suspeita inicial foi a de que um riser (tubulação submarina) tenha estourado. Os relatos dão conta ainda de que não houve explosão, mas os trabalhadores perceberam um “chacoalho absurdo na plataforma” e sentiram a unidade tremer às 5h45. A situação foi controlada e não houve vítimas, mas mais uma vez ficou claro o extremo risco.

Entenda a PLR 2019

O Sindipetro-NF tem recebido dúvidas da categoria sobre o acordo da PLR 2019, um dos itens de pauta das assembleias que acontecem nesta semana. Vídeo muito didático da diretora Bárbara Bezerra (disponível em is.gd/entendaplr2019) explica tudo. Vale a pena lembrar que o acordo é uma vitória do movimento sindical, que sempre defendeu a PLR linear, e que o valor acordado é líquido, sem desconto de Imposto de Renda. A demanda teve origem quando houve impasse na negociação da PLR 2019 (3/12 do ACT vigente e 9/12 do novo ACT), uma vez que a FUP recusou a tentativa da Petrobrás de implantar o famigerado “sistema de consequências”. Depois de judicialização e muitas lutas e negociações, agora em 2025 a Petrobrás propôs o acordo, em razão da vitória das ações dos sindicatos fupistas. Saiba mais no site do NF.

De olho nos voos

O Sindipetro-NF encaminhou, no último dia 22, ofício Petrobrás solicitando uma reunião para tratar da disponibilidade e dos indicadores das aeronaves utilizadas no transporte de trabalhadores offshore. No documento, o sindicato pede que a empresa apresente um panorama detalhado sobre as disponibilidades e as causas das indisponibilidades das aeronaves nos últimos dois meses, além da projeção futura da frota que atende aos embarques.

Dídimo presente!

Morreu na última segunda-feira, 27, aos 83 anos, o ex-diretor do Sindipetro-NF Dídimo de Siqueira, vítima de infarto. O companheiro foi diretor sindical na gestão 1999-2002, quando teve atuação destacada especialmente no Departamento dos Trabalhadores do Setor Privado (que à época se chamava Departamento das Empreiteiras). Sob liderança do então coordenador do departamento, Hélio Guerra (que faleceu em 2023), aquele foi um momento de grande construção da representação dos petroleiros e petroleiras do Setor Privado, com crescimento de filiações e de número de acordos coletivos firmados. O legado desta geração foi fundamental para que o sindicato desenvolva, atualmente, um atuação muito intensa e sólida junto a este segmento da categoria. Presente!

 

VOCÊ TEM QUE SABER

Todo mundo nas Assembleias até dia 5

O Sindipetro-NF convocou a categoria petroleira da Petrobrás e da Transpetro, da ativa e aposentados, para Assembleias iniciadas no último dia 26 e que seguem até 5 de novembro. As assembleias vão ocorrer nas bases administrativas, plataformas, salas de controle remoto, setores em regime de sobreaviso e nas unidades do Tecab, Barra do Furado, Porto do Açu e sede do sindicato em Macaé.

O objetivo é deliberar sobre os indicativos do Conselho Deliberativo da FUP relacionados às negociações do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), incluindo a rejeição da contraproposta apresentada pela Petrobrás em 16 de outubro, o estado de greve e a manutenção de assembleia permanente (veja abaixo do Calendário os indicativos).

O CD da FUP também indicou a aprovação da proposta construída em mesa para o pagamento da PLR 2019, com valor igual para trabalhadores da Petrobrás, Transpetro e demais subsidiárias, reafirmando o compromisso de solidariedade entre as bases. Além disso, foi deliberada a realização de mobilizações com o objetivo cobrar da gestão uma proposta concreta para o fim dos PEDs, resposta à pauta pelo Brasil soberano, encaminhamento do novo plano de cargos e avanços para um ACT digno que também proteja os trabalhadores terceirizados.

Contraproposta desrespeitosa

Durante o Conselho Deliberativo, os representantes das entidades deixaram claro que a proposta da Petrobrás não contempla as necessidades da categoria e que o processo precisa avançar muito para chegar a um acordo.  Para o coordenador geral do Sindipetro-NF, Sergio Borges, a contraproposta apresentada pela Petrobrás é insatisfatória e desrespeitosa com a categoria.

“A empresa fala em diálogo, mas não enfrenta os pontos centrais da pauta, como o teletrabalho, os PEDs e a incorporação de Cabiúnas. Além disso, seguimos recebendo relatos de desimplantes de trabalhadores, o que mostra o distanciamento da gestão em relação à realidade das bases. Não aceitaremos um ACT que transfira custos aos trabalhadores enquanto a Petrobrás bate recordes de lucro e distribui dividendos astronômicos aos acionistas. É hora de rejeitar a contraproposta, aprovar o estado de greve e intensificar a mobilização até que haja uma proposta à altura de quem faz a Petrobrás acontecer todos os dias”, afirmou.

 

Calendário e indicativos

Bases administrativas

28 e 30/10 – 13h – Estacionamentos da Praia Campista e em frente à Igrejinha (Parque de Tubos).

Plataformas e áreas operacionais

26/10 a 02/11 – Plataformas, salas de controle remoto, regime de sobreaviso, Tecab, Barra do Furado e Porto do Açu.  Devolução das atas até 12h de 03/11.

UTGCAB – Turnos

27, 29 e 31/10; 02 e 04/11 – sempre às 19h.

UTGCAB – Administrativo

05/11 – 6h30 – Petrobrás e trabalhadores do setor privado representados pelo sindicato/RCS.

Aposentados e pensionistas

05/11 – 10h – Sede de Macaé (Assembleia unificada)

Indicativos

1) Aprovação do indicativo de rejeição da contraproposta da empresa, apresentada em 16 de outubro;

2) Aprovação do Estado de Greve;

3) Aprovação do Estado de Assembleia Permanente;

4) Aprovação de Manifesto (is.gd/manifestoassembleia) e levantamento das pendências de SMS das unidades do Norte Fluminense

5) Aprovação dos três eixos da campanha:

– Centralidade da Campanha: A Petrobrás deve apresentar uma proposta concreta para os PEDs – “Proposta para os PEDs sem enrolação”;

– Defesa da Distribuição da Riqueza: ACT digno, sem ajuste fiscal sobre salários e carreiras;

– Pauta pelo Brasil Soberano: contra privatizações e novo modelo de negócios;

6) Aprovação da proposta de PLR 2019 linear para Petrobrás e Transpetro, com solidariedade aos trabalhadores sindicalizados das demais subsidiárias.

 

 

Pressão arranca reunião sobre desimplante absurdo

A pressão coletiva dos sindicatos que representam os trabalhadores offshore surtiu efeito. Após a reunião unificada realizada no último dia 24, a Petrobrás aceitou realizar um encontro com as entidades ainda nesta semana (até o fechamento desta edição do Nascente, com previsão para esta quarta ou quinta-feira, em horário ainda ser confirmado), com o objetivo de tratar dos desimplantes em massa que vêm atingindo dezenas de petroleiros sem explicações claras por parte da gestão.

O movimento sindical avalia que a rápida resposta da empresa é resultado direto da força demonstrada pela unidade dos sindicatos (Sindipetros NF, ES, RJ e Litoral Paulista), que se reuniram em defesa dos trabalhadores e deixaram claro que não aceitarão a retirada de direitos e o descaso com os empregados em regime especial.

“O fato de todos os sindicatos offshore estarem articulados e mobilizados já provocou um impacto dentro da Petrobrás. Isso mostra que quando nos unimos, somos ouvidos”, destaca o Coordenador do Sindipetro-NF, Sérgio Borges.

“Essa resposta rápida da empresa comprova o que sempre dissemos: a nossa única força está na união e no número. Quando a categoria se organiza, quando participa e fala em uma só voz, a Petrobrás precisa escutar”, reforça o diretor de Comunicação do NF, Johnny Souza.

A reunião com a direção da companhia será um momento importante para exigir explicações formais sobre os desimplantes e reafirmar a posição firme das entidades em defesa de todos os trabalhadores afetados — e de toda a categoria, que pode ser atingida a qualquer momento.

 

LUTA DO BENZENO EM BRASÍLIA Diretores do Sindipetro-NF estiveram semana passada em Brasília para percorrer gabinetes de deputados federais e senadores na campanha pela inclusão dos petroleiros e petroquímicos, expostos ao benzeno em seus locais de trabalho, no Projeto de Lei Complementar (PLP) 42/2023 — que visa regulamentar a Aposentadoria Especial no Brasil. O NF foi representado pelos diretores Eider Siqueira, Alessandro Trindade, Luiz Carlos Mendonça (Meio Quilo), Hilton Gomes e Marcos Botelho. A entidade voltará à capital federal no dia 10 de novembro, para participar de Audiência Pública no Senado sobre “os riscos da exposição de trabalhadores ao benzeno”.

 

 

SAIDEIRA

Conscientização em Rodas de Conversa nesta semana no NF

Fernanda Viseu / Imprensa do NF

O Sindipetro-NF realiza nesta semana, nos dias 28 e 30, respectivamente nas sedes de Campos dos Goytacazes e de Macaé, duas rodas de conversa sobre a prevenção ao câncer de mama, em atividade do Departamento de Cultura, integrante do Outubro Rosa. As interações acontecem às 15h nas duas sedes. As rodas vão contar com as participações de vários profissionais da área da saúde, entre eles estará a médica Maria Nagime Barros Costa Yunes, que é cirurgiã e mastologista, especialista em câncer de mama e em cirurgia reconstrutora das mamas. A profissional concluiu residência médica em Mastologia pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) em 2010 e é membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia. Atualmente, coordena o serviço de mastologia do Grupo IMNE Oncologia e é responsável pelo serviço de cirurgia reconstrutora mamária do setor de oncologia da Unimed Campos.

A médica integra ainda o Breast Saving Group, grupo feminino de cirurgiãs com foco em técnicas reconstrutoras e oncoplásticas, e é chefe do programa “Campos Sempre Rosa”, iniciativa da Prefeitura Municipal de Campos voltada à conscientização e cuidado com a saúde mamária.

Também participam das atividades em ambas as sedes de Campos e Macaé os profissionais do Polo Municipal de Apoio ao Paciente Oncológico – Secretaria Municipal de Saúde de Macaé: Fabrine Souza de Albuquerque, Fisioterapeuta Especialista em Oncologia – Mestranda em prevenção e controle do câncer – INCA e Luciana Jordão – Assessora Especial. Já Eigon Leocadio, Gerente e Anderson Rangel Campos, Coordenador Geral estarão presentes no dia 30 de outubro em Macaé.

 

NORMANDO

Às Assembleias

Carlos Eduardo Pimenta*

Nesta semana, os trabalhadores iniciam um novo momento na histórica disputa entre capital e trabalho, marcado pelo aprofundamento das discussões nas assembleias. O foco principal destas será a análise da primeira contraproposta apresentada pela Petrobrás, no contexto das negociações do ACT para o ano de 2025.

A proposta divulgada em 16 de outubro não apenas desrespeita direitos historicamente conquistados pela categoria, como também representa um retrocesso inaceitável nas garantias mínimas de condições laborais, segurança e dignidade. Ao propor cortes e flexibilizações, a Petrobrás sinaliza o enfraquecimento de compromissos sociais e a priorização exclusiva da lógica do lucro, em detrimento da valorização de quem constrói, diariamente, a sua riqueza.

A proposta é mais um passo no projeto da Petrobrás em reduzir a as condições de trabalho e ignorar a sua função social, desconsiderando os problemas recorrentes enfrentados pelos trabalhadores da BC — frequentemente denunciados e já objeto de ações judiciais.

Entre esses problemas estão a precariedade das estruturas de apoio nos pontos de embarque e a ausência de previsibilidade nas escalas, violando normas de segurança, impactando a saúde mental e física dos trabalhadores e são uma demonstração do descaso com a gestão da força de trabalho.

Além disso, a negligência na manutenção das plataformas, com equipamentos obsoletos, falhas e acidentes constantes e ausência de investimentos adequados em segurança operacional, afronta diretamente as normas de segurança e demais regulamentações. Tal postura expõe os trabalhadores a riscos iminentes, amplia a vulnerabilidade das operações e compromete a imagem da Petrobrás enquanto empresa que deveria ser referência em segurança e responsabilidade social.

Como se não bastasse, persistem as queixas sobre a má qualidade das refeições servidas a bordo, que não atendem aos requisitos nutricionais mínimos previstos em norma e afetam diretamente o bem-estar e a saúde dos petroleiros. Esse cenário de negligência e precarização não é isolado, mas faz parte de uma estratégia mais ampla de redução de custos às custas dos direitos e da dignidade da categoria.

Diante desse quadro, torna-se legítima e necessária a rejeição massiva da contraproposta. É hora de a categoria reafirmar sua unidade e fortalecer a mobilização, preparando-se para os enfrentamentos que se avizinham. Cada trabalhador deve participar ativamente das assembleias, contribuir com informações sobre as movimentações da Petrobrás em suas bases e fortalecer a atuação dos sindicatos.

A greve, quando construída de forma organizada, democrática e respaldada por deliberação coletiva, é um direito fundamental e uma ferramenta indispensável na defesa dos interesses da classe trabalhadora. Rejeitar a contraproposta não é apenas um gesto de inconformismo, mas um ato de resistência jurídica, política e moral.

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