O 13 de maio e a ilusão da liberdade no Brasil

A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, abolindo oficialmente a escravidão no Brasil, deixou um legado de liberdade incompleta. Apesar do gesto ser amplamente comemorado como um marco na história do país, encobriu uma realidade bem menos vitoriosa: milhões de pessoas foram libertadas apenas no papel, sem acesso à terra, trabalho digno ou qualquer tipo de reparação.

Até hoje, os efeitos desse passado seguem presentes no racismo, na desigualdade e na exclusão. “É um dia de reflexão porque ainda há muita coisa a se pensar sobre o processo de abolição. Algumas pessoas até comemoram porque, de fato, a escravidão deixou de ser institucionalizada no nosso país. Mas, sobretudo, o 13 de maio é um dia de crítica, pois vemos muitos problemas que persistiram após o processo de abolição e ainda existem até hoje. Na prática a libertação do povo preto só se deu, ainda se dá e somente se dará na luta”, avalia o coordenador geral do Sindipetro-NF, Sérgio Borges.

Segundo o coordenador, a tentativa histórica de valorizar o ato “heroico” da princesa branca e apagar o protagonismo do movimento negro fortaleceu o racismo institucional e trouxe mazelas que ainda são enfrentadas pelos negros na sociedade. “Não foi dona Isabel, foi Dandara e Zumbi dos Palmares, no maior quilombo do nosso país. Foi Luiz Gama, advogado do povo preto, foi João Cândido, na Revolta das Chibatas, e vários outros abolicionistas do nosso país. Hoje somos eu e você que lutamos contra o racismo”, destaca Sérgio.

Mais de um século depois, as marcas desse processo de quase 400 anos de escravidão ainda são visíveis. As desigualdades sociais e a falta de acesso a direitos básicos continuam a ser a realidade de milhões de brasileiros.

“E o pior de tudo é que a abolição não fez nenhum ato de reparação, pelo contrário, proibiu o acesso à terra, ao trabalho, à educação. Por isso que este dia é para lembrar que a verdadeira libertação não virá através de uma lei e sim da luta do povo preto e de uma sociedade contra o racismo e todas as formas de opressão”, aponta o coordenador.

Precisamos resgatar essa memória e entender que a luta por igualdade e justiça social continua.