Pandemia provocou quase 10 mil desembarques de plataformas no RJ, ES e SP

Desde o início da pandemia da Covid-19, o movimento sindical petroleiro encontra dificuldades em obter da Petrobrás dados sobre os impactos da doença na categoria. Uma resposta a pedido de informações feito à empresa por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), no entanto, contribui para que se tenha a dimensão da tragédia: de março de 2020 a abril de 2021, a companhia registrou 9.487 desembarques sanitários de trabalhadores que estavam a bordo de plataformas dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.

O pedido de informações foi feito no dia 5 de abril de 2021 pelo coordenador do Departamento de Comunicação do Sindipetro-NF, Rafael Crespo, como pessoa física, e as respostas foram dadas pela empresa em duas etapas nos últimos dias 5 e 14 de maio.

Primeiro a empresa respondeu sobre o número de desembarques sanitários envolvendo apenas petroleiros e petroleiras contratados diretos da empresa. Neste recorte, o número de desembarques de trabalhadores próprios com suspeita de contaminação (sintomáticos) e de contactantes (assintomáticos com contatos próximos aos suspeitos) chegou a 1.732 entre março de 2020 e início de maio de 2021. Ainda neste segmento, plataformas do Rio de Janeiro são responsáveis pela grande maioria dos desembarques: 1.515.

Após esta primeira resposta da empresa, limitada aos trabalhadores próprios, Crespo apresentou recurso para que fossem incluídos os petroleiros terceirizados. Dessa vez, a empresa respondeu com um quadro genérico, sem estratificação por estados, onde aparece o dado de que quase dez mil petroleiros e petroleiras desembarcaram de unidades da empresa em razão da pandemia (9.487) no somatório de Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Um novo recurso foi apresentado para que os dados sejam estratificados por estados e a empresa ainda está no prazo para envio das informações.

Nesta segunda resposta, chama a atenção o grande crescimento de casos a partir do final de 2020. O número saltou de 650 em novembro de 2020 para 1.153 em dezembro de 2020, com pico até o momento de 1.326 em março de 2021 — e recuo para 1.218 em abril. Diferentemente do primeiro, este conjunto de dados não incluiu os dados iniciais de maio de 2021.

O Sindipetro-NF avalia que os números comprovam a ineficácia da política de prevenção à Covid-19 nas instalações da Petrobrás. Dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostram hoje que 73% dos casos de contaminação entre petroleiros e petroleiras acontecem em plataformas de petróleo.

O sindicato, junto à FUP e demais sindicatos, apresentaram desde 2020 um conjunto de procedimentos a serem seguidos pela empresa para que haja redução nos riscos de contaminação — incluindo itens como uma proposta de escala que mantenha em 14 dias o embarque, garantia de testes e de máscaras de qualidade e fim das quarentenas de pré-embarque nos hoteis. As recomendações foram avalizadas pelo Ministério Público do Trabalho e pela Fiocruz. Ainda assim a empresa insiste em descumpri-las.

Além de impactar diretamente a categoria petroleira, o grande número de casos em instalações da Petrobrás acaba por aumentar os riscos em cidades onde a empresa opera. Os quase 10 mil possíveis contaminados pela doença foram desembarcados nestes municípios, contribuindo para a disseminação. Embora os dados não cheguem a esse nível de detalhamento, sabe-se que a grande maioria destes desembarques acontecem em Campos dos Goytacazes (RJ), no Heliporto do Farol de São Tomé.

Essa preocupação com os efeitos negativos do comportamento da Petrobrás para as cidades tem levado o Sindipetro-NF a atuar em parceria com as autoridades locais de saúde. No dia 19 de abril passado, diretores da entidade se reuniram com representantes da área de vigilância epidemiológica do município para traçar planos de atuação conjunta no heliporto do Farol e nos hoteis onde a companhia hospeda petroleiros. Uma nova reunião está prevista para hoje.

Greve pela Vida

Em razão da negligência da empresa na prevenção à Covid-19 em suas instalações, a categoria petroleira do Norte Fluminense está em greve desde 0h do dia 4 de maio, sob orientação sindical de cumprimento rigoroso das escalas, turnos e jornadas em todas as unidades da empresa, em terra e no mar.