Tezeu Bezerra: Luna não muda luta petroleira

Do Boletim Nascente – A categoria petroleira manterá a sua agenda de lutas contra as privatizações, o desmonte da Petrobrás, os direitos dos petroleiros e petroleiras e, especialmente nesta pandemia, pelo cumprimento de procedimentos de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus. Os abalos midiáticos provocados pela troca na presidência da Petrobrás não alteram os passos previstos de mobilização dos trabalhadores e das trabalhadoras. A avaliação é do coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, que nesta entrevista ao Nascente avalia as mudanças na companhia, o perfil de Silva e Luna e o papel do sindicato e da FUP neste momento.

Nascente – Na visão do Sindipetro-NF, o que muda na Petrobrás com a troca na presidência da empresa?

Tezeu – Na verdade, pelo que estamos vendo, a política de preços, a PPI (Política de Paridade Internacional), assim como a política de privatizações, aparentemente não mudariam. O que muda com a saída do Castello Branco é o enlouquecimento do mercado financeiro, com uma insegurança grande por parte do mercado financeiro em relação a essa mudança. Vai caber à FUP e aos sindicatos atuar neste meio de campo para tentar jogar um espírito mínimo nacionalista dentro da Petrobrás. É injustificável, tanto no que tange ao povo quanto no que tange ao resultado operacional da empresa, na questão financeira mesmo, a venda das refinarias e de várias plataformas. É isso que a gente vai tentar mostrar para esse novo presidente. Com o Castello Branco não existia nenhum tipo de abertura para isso. A mudança, na prática, vai ser mais em uma tentativa da Federação e sindicatos de mudar essa perspectiva, que hoje é péssima, junto ao novo presidente e, talvez, junto a novos conselheiros que venham por aí.

Nascente – O que sabemos até o momento sobre o histórico do general Silva e Luna, em Itaipu, na relação com os trabalhadores?

Tezeu – O que a gente sabe é que ele é um cara de mais diálogo, tem um histórico em Itaipu de mais diálogo, porém está alinhado com o governo Bolsonaro. Então, ao mesmo tempo, a linha do governo Bolsonaro, a gente viu isso claramente com o Castello Branco, é uma linha de não diálogo, uma linha de imposição. Então a gente vai ter que esperar para ver qual é o comportamento dele. Não temos boas perspectivas, naturalmente, por se tratar desse governo, mas tanto o Sindipetro-NF quanto a FUP vão tentar, sim, um diálogo porque temos que mostrar que o caminho que está sendo feito vai levar ao fim da Petrobrás. Então a gente tem que mudar isso.

Nascente – Como fica a agenda de mobilizações chamada pela FUP e a luta contra as privatizações?

Tezeu – A agenda de mobilizações não muda. A greve, em si, foi suspensa provisoriamente pelo pessoal da Bahia, mas em todo o Brasil o pessoal vai continuar fazendo as assembleias e vai continuar caminhando para mobilizar a categoria, em defesa dos nossos direitos, em defesa da Petrobrás, contra as privatizações. Não muda nada em relação à agenda de luta.

Nascente – A pandemia tem colocado obstáculos para as mobilizações, como o sindicato pretende superar esse momento e construir, por exemplo, uma greve?

Tezeu – Os trabalhadores já mostraram que são capazes de inovar. O sindicato tem inovado, com setoriais online, com conversas com a categoria, a própria organização de grupos de whatsapp. Então todo esse cenário tem sido bem concreto em relação aos trabalhadores e trabalhadoras da Petrobrás. A gente vai fazer um seminário de greve, vamos anunciar nos próximos dias a data, vamos fazer assembleias para chamar o estado de greve. Tivemos uma participação muito boa, de mais de 600 trabalhadores nessa última rodada de assembleias, que foi a primeira para aprovar o manifesto e o estado de assembleia permanente, e nós vamos inovar e buscar junto à categoria os passos para fazer essa organização e mobilização. Não tenho dúvida de que a categoria petroleira, com certeza, vai dar um show e vai, mais uma vez, partir para a luta. Isso a gente sabe fazer e vai fazer.