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A SEMANA
Editorial
Pensou que não ia ter greve forte no Governo Lula?
Desde os primeiros minutos da última segunda-feira (15), enquanto o coordenador-geral do Sindipetro-NF, Sérgio Borges, e o diretor administrativo, Guilherme Cordeiro, estavam no ar no NF ao vivo (que durante a greve vai ao ar todas as noites), o chat do programa e os grupos de Whatsapp da categoria não deixavam dúvidas: estava nascendo uma greve para entrar na galeria das grandes paralisações da história petroleira.
A adesão firme e imediata de uma após outra plataforma e os cortes de turno das primeiras horas, ainda na madrugada, viriam a encontrar os trabalhadores do administrativo, no início da manhã, ainda mais inclinados a se somarem a esta grande construção.
No quadro nacional não foi diferente. Sindipetros do país inteiro, filiados a ambas federações (FUP e FNP) davam informes das adesões fortes em suas bases, afastando qualquer dúvida que porventura a Petrobrás tivesse sobre a gigante insatisfação da categoria em relação aos sucessivos tropeços neoliberais da atual gestão da companhia — uma decepção em se tratando de uma gestão exercida sob o governo do presidente Lula, o maior líder operário de todos os tempos no Brasil, governante sensível às demandas dos trabalhadores e eleito com expressivo apoio da categoria petroleira.
Esta greve também afasta outra dúvida: àquela que alguém ainda poderia alimentar sobre a independência dos sindicatos petroleiros em relação a qualquer governo. Quem achou que não haveria greve no governo Lula, achou errado. É uma questão de Luta de Classes, e o sindicato sempre estará do lado dos trabalhadores.
Enquanto essa edição do Nascente era fechada, na manhã da terça-feira (16), o cenário era de ampliação do movimento (veja quadro ao lado). A categoria petroleira volta a fazer história em um movimento de greve que confirma a sua altivez, a sua grande capacidade de organização e a sua aguçada leitura política da conjuntura.
Sigamos na luta até a vitória!
VOCÊ TEM QUE SABER

Greve tem largada mais intensa da história recente e pressiona Petrobrás
A categoria petroleira está em greve nacional desde 0h da última segunda-feira (15). Os trabalhadores e as trabalhadoras reivindicam que a gestão da Petrobrás reabra o diálogo e apresente uma contraproposta de ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) que atenda aos pleitos; que apresente solução definitiva para os PEDs; que suspenda os desimplantes forçados; e que revise sua política de privatizações, mantendo a companhia no rumo certo, afinada com a política de valorização da empresa. Enquanto isso não ocorrer, a greve segue por tempo indeterminado, com forte adesão e mobilização crescente.
Enquanto essa edição do Nascente era fechada, na manhã da terça-feira (16), o quadro no Norte Fluminense era de adesão de 22 plataformas (de 29 sob operação da Petrobrás) e de corte de rendição nos turnos de Cabiúnas. Nas bases administrativas de Imbetiba e Parque de Tubos, há adesões de grupos e houve dispensa da companhia do trabalho presencial.
As lideranças sindicais têm avaliado que a greve atual é uma das que tiveram uma largada mais intensas na história recente da categoria. Normalmente, os movimentos grevistas começam com adesões pontuais nas unidades mais mobilizadas e crescem à medida que o trabalho de convencimento é feito. Dessa vez, um grande número de unidades entrou em greve desde os primeiros instantes.
Quadro nacional mostra greve com adesão intensa em todos os estados com bases da Petrobrás
Com Informações da FUP
Amazonas
Terminal Coari – 100% adesão da operação, da manutenção e do SMS.
Ceará
Lubnor – corte de rendição do turno;
Termoceará – corte de rendição do turno;
Terminal de Macuripe – aderiram à greve;
Rio Grande do Norte
Termelétrica do Vale do Açu – trabalhadores aderiram à greve;
EDIRN – adesão de 90%;
SMS – médicos aderiram à greve;
Bahia
Campos de produção terrestre – adesão dos trabalhadores das bases de Fazenda Bálsamo (Esplanada), de Santiago (Catu), de Taquipe (São Sebastião do Passé), de Buracica (Alagoinhas) e de Araçás;
Usina de Biodisel de Candeias (PBio) – trabalhadores aderiram à greve;
Espírito Santo
Plataformas P-58 e P-57 – trabalhadores desembarcaram;
SMS – médicos e dentistas aderiram;
Minas Gerais
Regap – sem rendição no turno;
UTE-Ibirité – sem rendição no turno;
PBio – sem rendição no turno;
Duque de Caxias (RJ)
Reduc – sem rendição no turno;
Norte Fluminense (RJ)
Plataformas – trabalhadores de 22 unidades da Bacia de Campos aderiram à greve e estão solicitando desembarque: PG1, PNA-1, PNA-2, P09, P-18, P19, P-20, P-25, P-26/P-33 (Porto Açu), P-35, P-37, P-38, P-40, P43, P-48, P51,P-52, P-54, P-55, P-56 e P-62;
Cabiúnas – turnos aderiram e estão sob sobreaviso;
PT e Imbetiba – adesões parciais do ADM;
São Paulo
Replan – sem rendição no turno;
Transpetro Paulínia – adesão à greve e regime de Poliduto operando com contingência;
TBG – sem entrada de grupo de contingência, a unidade está parada;
Recap – sem rendição no turno;
Revap – sem rendição no turno;
Transpetro São José dos Campos – adesão à greve;
Paraná
Repar – sem rendição no turno;
Tepar – teve corte de rendição e a contingência assumiu a unidade;
Nesix -atrasos na troca de turno e no administrativo;
Fafen-PR – atrasos nas trocas de turno;
Santa Catarina
Terminal de São Francisco do Sul – trabalhadores aderiram à greve;
Terminal de Biguaçu – trabalhadores aderiram à greve;
Terminal de Itajaí – trabalhadores aderiram; à greve
Terminal de Guaramirim – trabalhadores aderiram à greve;
Rio Grande do Sul
Refap – corte de rendição no turno.
Gestão usa polícia contra trabalhador
A greve petroleira está sendo marcada no Estado do Rio por extrema truculência da gestão da Petrobrás, que tem acionado a Polícia Militar para coagir os trabalhadores. Na manhã do primeiro dia da greve, o secretário-geral do Sindipetro Caxias, Marcello Bernardo, e o membro titular da Cipa da Reduc, Fernando Ramos, foram presos de forma ilegal em ação violenta da PM na refinaria. O vídeo das agressões feitas pelos policiais correram as redes sociais e causaram indignação. Eles foram autuados por desobediência e liberados.
No Heliporto do Farol de São Thomé, mesmo sem nenhum ato programado pelo Sindipetro-NF, a Polícia Militar posicionou cerca de 10 viaturas, de acordo com relato feito pelos diretores Tezeu Bezerra e Sérgio Borges.
NF ao vivo toda noite
O programa NF ao vivo está sendo mantido com edições todas as noites, às 19h30, enquanto durar a greve petroleira. O objetivo é fazer um balanço diário do movimento, com informes sobre a greve no Norte Fluminense e em todas as demais bases do país, com entradas ao vivo de diretores, diretoras e assessorias dos Sindipetros brasileiros. A categoria tem participado de forma intensa das interações.
Desembarque é direito
O Sindipetro-NF recebeu denúncias de que alguns gerentes de unidades da Bacia de Campos estão negando ou dificultando o exercício do direito de desembarcar da plataforma para aderir ao movimento, o que pode configurar cárcere privado. O sindicato reafirma a orientação para que os trabalhadores e trabalhadoras entreguem a operação das unidades aos prepostos da Petrobrás e que, em caso de resistência por parte das chefias, seja preenchido o “Requerimento de Desembarque Imediato” disponível no site.
Docs da greve
A comunicação do NF concentrou em uma área específica do site da entidade todas as notícias e documentos necessários para a greve, em sindipetronf.org.br/greve-2025. Estão disponíveis orientações para greve, Requerimento de Desembarque Imediato, Termo de Responsabilidade pela Entrega das Plataformas, Termo de resposta à convocação da Petrobras e a Cartilha de Greve 2025.

VIGÍLIA NO EDISEN Com representações de todos os sindicatos petroleiros, a FUP e a FNP retomaram no último dia 11 a vigília pelo fim dos Planos de Equacionamento dos Déficits da Petros (PEDs), em frente ao Edifício Senado (Edisen), no Centro do Rio de Janeiro, onde funciona a sede administrativa da Petrobrás. Aposentados, aposentadas, pensionistas e lideranças sindicais de todo o Brasil permanecem acampados no local, por tempo indeterminado, até que a direção da estatal apresente uma proposta que formalize o que foi negociado na Comissão Quadripartite com as entidades, os órgãos reguladores e a Petros. Esse é um dos três eixos da campanha reivindicatória que foram aprovados pela categoria e uma das reivindicações da greve nacional petroleira iniciada na última segunda-feira (15).
SAIDEIRA
Greve tem boa visibilidade com grande repercussão na mídia
A greve petroleira tem gerado grande repercussão na imprensa. Todos os veículos jornalísticos nacionais, e regionais onde há bases da Petrobrás em greve, noticiaram o início do movimento. A insatisfação da categoria petroleira com a atual gestão da Petrobrás tem sido registrada nas matérias.
O movimento sindical conseguiu comunicar com clareza as razões da paralisação (os três principais eixos de reivindicações: ACT, PEDs e Petrobrás para o Brasil) e as pautas deram destaque ao enfoque dos trabalhadores sobre a notícia. A Petrobrás tem sido citada como “outro lado”, por meio de nota protocolar que afirma que manterá o controle da produção com a utilização de equipe de contigência.
A violência da PM contra lideranças em Caxias também foi registrada em diversas matérias jornalísticas.

ATO NACIONAL EM CAXIAS Ato nacional na manhã desta terça-feira (16), organizado pela FUP e pelo Sindipetro Caxias, reforçou a solidariedade da categoria petroleira aos às lideranças agredidas pela Polícia Militar, na segunda-feira (página 3), e intensificou as mobilizações da greve. Assim como diversas refinarias do país e o terminal de Cabiúnas, no Norte Fluminense, a Reduc está com o corte de rendição suspenso.
NORMANDO
E vamos à luta!
Carlos Eduardo Pimenta*
A greve nacional iniciada nesta semana vai muito além de um simples movimento reivindicatório, é um ato de afirmação de um direito humano fundamental: o direito de greve. Sem a efetiva garantia desse direito, a liberdade sindical é severamente restringida e, como consequência direta, a negociação coletiva perde sua força, sua legitimidade e sua razão de existir. Onde não há direito de greve, não há plena democracia!
Este movimento não surge de forma isolada. Ele é resultado de uma campanha contínua dos trabalhadores contra a letargia e as injustiças praticadas pela atual gestão da Petrobrás. Trata-se de uma expressão do compromisso histórico da categoria com a justiça social e com a defesa intransigente dos direitos fundamentais. A postura inflexível da Petrobrás, especialmente após anunciar a distribuição de valores expressivos a acionistas, contribuiu decisivamente para a ampla e consistente adesão observada em todas as bases do país.
A greve dos petroleiros em 2025 transcende as questões estritamente salariais, como de costume em uma categoria tão importante quanto a petroleira. É um protesto que vocaliza preocupações profundas sobre a gestão da principal empresa brasileira, o futuro energético nacional e o modelo de relações de trabalho que se pretende consolidar. Trata-se de uma luta que busca proteger o interesse público e reafirmar que os trabalhadores são os primeiros a zelar pela saúde, pela sustentabilidade e pelo futuro da empresa à qual dedicam suas vidas.
O exercício do direito de greve é legítimo e essencial para o equilíbrio das relações entre capital e trabalho. Evidentemente, existem limites jurídicos ao movimento grevista, que devem ser analisados caso a caso, especialmente quando há eventual conflito com outros direitos constitucionais. Esses limites, contudo, também se aplicam ao empregador. Não pode a empresa constranger, intimidar ou retaliar — como a Petrobrás reiteradamente o faz — os trabalhadores que aderem ao movimento.
Nenhum trabalhador é obrigado a compor efetivo mínimo sem indicação do sindicato, e o contrato de trabalho permanece suspenso durante a greve, resguardando o trabalhador contra punições indevidas.
Ademais, durante todo o período de greve, as informações oficiais serão divulgadas exclusivamente pelo sindicato, que permanece como o canal legítimo de orientação da categoria. A assessoria jurídica está de prontidão para prestar esclarecimentos e adotar as medidas necessárias à defesa dos direitos dos trabalhadores.
Em última análise, esta greve será um testemunho vivo de que a luta por direitos é permanente. É uma lição concreta de cidadania ativa e a prova de que a democracia se constrói e se fortalece na coragem coletiva de exercer o direito de resistência em nome de um futuro mais justo em busca da utopia.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]
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