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E ntrevista Gracias a la vida Enquanto Pelé, Tostão, Rivelino e outras feras da seleção se preparavam para encantar o mundo e conquistar o tricampeonato mundial para o Brasil, em 1970, uma ditadura militar sanguinária torturava e matava militantes de esquerda que contestavam o regime autoritário instalado no país desde 1º de abril de 1964. Cid Benjamin, que acaba de lançar Gracias a La Vida Memórias de um militante (292 páginas, da Editora José Olímpio) foi um deles. Figura de destaque na preparação e execução do sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, que resultou na libertação de 15 presos políticos, Cid foi detido em 21 de abril de 1970, precisos dois meses antes do título brasileiro no México. Uma das lideranças do MR-8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro) foi submetido a várias formas de tortura durante os quase 60 dias em que esteve sob as garras dos militares. Libertado em 16 de junho de 1970 foi um dos 40 militantes trocadas pelo embaixador alemão Von Hollenben, seqüestrado pela VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) , Cid, expulso do país, viveu exilado na Argélia, em Cuba, no Chile, na Suécia. De volta ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia, participou ativamente do processo de redemocratização do país e da fundação e consolidação do PT, partido pelo qual foi candidato a deputado estadual (1986) e vereador (1988). Perdeu as duas eleições. Jornalista, responsável pela área de comunicação da Comissão da Verdade do Rio, Cid defende no livro que a luta armada foi um erro. Abaixo, um pouco do que Cid defende em seu livro, o obrigatório Gracias a La vida Memórias de um militante. Carlos Monteiro Abaixo a ficha de Cid Benjamin, na época em que foi preso Revista Imagem Embora aborde dedicar, se bem exercida; e a um dos temas mais caros de nossa continuar a ter tempo para fazer história, a tortura, você não passa outras coisas que também me dão uma visão amarga dos acontecimen- prazer: ler, ouvir música, acompa- tos. Onde buscou força para viver nhar o Flamengo, coisas boas da com essa generosidade? vida. A tortura não me tirou a vontade de viver. Talvez até tenha Cid Gracias a La vida não é o livro me chamado mais a atenção para de alguém que se apresenta como isso. Não é à toa que o livro se coitado. É o relato de quem viveu e chama Graçias a la vida. Quando pretende viver intensamente, de minha mãe foi ao Chile, durante o forma prazerosa. Para alguns, exílio, vendo-me viver em uma prazeroso é contar dinheiro, é viajar situação franciscana, no sub-solo muito. Prazeroso, para mim, é de um prédio, cujos móveis eu tinha continuar a participar da política, construído e sentado num caixote, que considero a atividade mais tocando violão e cantando Gracias nobre a que o ser humano pode se a La vida (N. E.:música folclórica 19 Imagem