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situações de violência doméstica”, gráfico). branca, a quem o universo conspira
conta Conceição de Maria. “O que a favor”, afirma Sandra Martins,
buscamos é a conscientização. MULHER E NEGRA: DISCRIMINAÇÃO do Comitê Impulsor de Niterói da
Encontramos mulheres que nem VEM EM DOBRO Marcha das Mulheres Negras. Ela
mesmo sabiam que podem denun- explica que, das revistas para
ciar”, diz a presidente do conselho. “A mulher negra está na base da crianças às revistas para adoles-
Macaé fechou 2013 – último ano pirâmide”, define a presidente do centes, "o universo da paixão é
com estatística compilada e deta- Conselho Municipal dos Direitos das branco". Ou, em outra situação,
lhada – com 649 casos registrados Mulheres de Macaé, Conceição de ocorre a sexualização da mulher
de lesão corporal dolosa contra Maria Rosa. À carga opressora do negra, como no seriado da R ede
mulher. Isso de acordo com dados machismo é acrescentado o pre- Globo “Sexo e as Negas”. Sandra
do Instituto de Segurança Pública conceito racial. Ou vice versa. Aí é destaca que o seriado instiga a
do Estado divulgados pelo Dossiê que os problemas vêm em dobro. mensagem de que “as meninas
Mulher. Em Campos dos Goytacazes “Por mais amor que tenha ao seu pretas só gostam de sexo”.
o registro aponta para o dobro, redor, a mulher negra tem cobran- Ela lembra que o racismo mata
1310 casos de agressões (ver ças que não são feitas à mulher física, mental e espiritualmente.



ENTREVISTA:PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO RAMO QUÍMICO, LUCINEIDE VARJÃO
“Muitas mulheres reproduzem a lógica opressora”


Lucineide Varjão é presidente da Confederação Nacional do Ramo
Químico (CNQ), entidade sediada em São Paulo que conta com 81
organizações filiadas e cerca de 460 mil trabalhadores na base. Na
entrevista a seguir, Lucineide fala da ruptura ao ter mulheres no
comando de grandes decisões no Brasil e também do preconceito
que vem inclusive do lado feminino.

De que forma ser mulher no Brasil em posição de liderança incomoda
aqueles que defendem a manutenção dos privilégios patriarcais?
Incomoda e muito. Desde que nascemos, aprendemos que nosso
lugar é dentro de casa, que isso é natural, e que aos homens cabe o
mundo público, a liderança. Quando as mulheres reivindicam seu
direito a estar em todos os espaços, estamos mexendo com as
estruturas do patriarcado. O debate das mulheres sobre paridade
(de gênero), por exemplo, incomoda porque é uma forma de alterar
essa "naturalização" e garantir a presença de uma "massa crítica"
suficiente de mulheres nessas estruturas.

Mulher em posição de liderança é uma ruptura.
Quando as mulheres estão presentes nos espaços de tomada de
decisão, há possibilidade de se avançar mais rapidamente no reco-
nhecimento das desigualdades de gênero e na elaboração de
propostas para superar as iniquidades existentes no mundo do
trabalho, como salários mais baixos, ausência de determinados
direitos e a subvalorização dos trabalhos realizados por mulheres e
no mundo sindical.
Há reações machistas, como as observadas durante os protestos
contra o governo federal, que são feitas inclusive por parte das
próprias mulheres.
Eu acredito que muitas mulheres reproduzem a lógica opressora.
Vivemos numa sociedade capitalista, patriarcal e racista e aquilo que
foge à regra é considerado errado. A mídia, as escolas reforçam tudo
isso ao longo de nossa formação. Não há espanto quando mulheres
reproduzem pontos de vistas patriarcais. Isso apenas demonstra o
quanto ainda temos que avançar.



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