A greve é a mais extrema ferramenta de reivindicação da Classe Trabalhadora. Quando ela começa, é porque todas as demais formas de entendimento não foram suficientes para garantir o mínimo de acordo entre as partes. Nenhum trabalhador faz greve porque quer ou porque gosta. É uma ação penosa, tensa, que expõe os empregados à perseguição, que gera desgastes familiares e incompreensão entre aqueles que são destinatários dos serviços ou produtos que deixam de ser feitos ou entregues.
Quantas vezes nós, petroleiros e petroleiras, não passamos por isso? Absolutamente todas as nossas conquistas em Acordo Coletivo advém das nossas lutas, e muitas delas só se concretizaram após greves muito intensas, onde ocorreram punições, demissões e, também em alguns casos, impactos sobre o fornecimento de combustíveis para a sociedade.
Por isso que, neste momento em que os trabalhadores da hotelaria das plataformas da Bacia de Campos se levantam em uma greve histórica, a categoria petroleira tem a plena consciência de que: 1) O movimento não nasceu do nada, é resultado de uma insatisfação de anos com as condições de trabalho; 2) Os anos de ultra-liberalismo e fascismo da história recente do país agravaram estas condições precárias, rebaixaram os contratos sob a omissão da Petrobrás; 3) As negociações com as empresas que prestam serviço não resultaram em condições satisfatórias; 4) A categoria petroleira tem o dever moral, o compromisso ético e a solidariedade de classe no apoio à greve dos companheiros da hotelaria.
Problemas pontuais nos serviços sempre foram verificados na história recente da indústria do petróleo no Brasil. Nos últimos anos, no entanto, os problemas deixaram de ser pontuais e se tornaram cada vez mais crônicos e críticos. Levantamento no site do Sindipetro-NF mostra que, em 2022, já havia denúncias sobre condições ruins de alimentação e higiene a bordo. O ápice aconteceu em 2023 com um surto de intoxicação alimentar em uma plataforma e flagrantes de alimentos deteriorados sendo servidos a bordo em outras.
Os petroleiros iniciaram uma grande mobilização para reunir denúncias, que foram enviadas ao Sindipetro-NF. A entidade produziu um dossiê com relatos de 26 plataformas sobre as condições precárias de alimentação e higiene a bordo, entregue à Petrobrás e aos órgãos fiscalizadores, e endureceu o tom das cobranças por uma resolução imediata.
A eclosão dos casos jogou luz sobre as condições de trabalho dos companheiros da hotelaria, e o Sindipetro-NF prestou solidariedade ao Sinthop (Sindicato dos Trabalhadores de Hotelaria Embarcados nas plataformas de Petróleo), abrigando em suas sedes reuniões da categoria e contribuindo na busca de soluções junto à Petrobrás e empresas prestadoras de serviço. A primeira delas aconteceu em maio de 2024 na sede do Sindipetro-NF em Campos dos Goytacazes e em seguida se tornaram rotineiras.
Em um ambiente de mais diálogo com a gestão da Petrobrás, o Sindipetro-NF conseguiu alguns avanços na qualidade dos serviços e alguns passos (tímidos) foram dados em relação às condições de trabalho dos companheiros. No primeiro caso, houve retorno de algumas ações de integração que haviam sido cortadas, como os churrascos, e o compromisso de melhoria nos contratos futuros — na negociação direta entre o Sindipetro-NF e a Petrobrás. No segundo caso, no entanto, sobre as reivindicações salariais, de benefícios e condições de trabalhos, na negociação entre o Sinthop e as empresas privadas do ramo da hotelaria, não houve avanços significativos e a greve se fez necessária.
O Sindipetro-NF reforça que esta não é uma greve dos petroleiros representados pela entidade. Os petroleiros da hotelaria são representados por outro sindicato. No entanto, também reforça que a solidariedade de classe é um dos traços do caráter petroleiro e que o Sinthop e os trabalhadores que representa têm todo o apoio dos petroleiros e petroleiras.
O Sindipetro-NF parabeniza a categoria petroleira pelo modo como tem manifestado essa solidariedade a bordo, como expresso em manifesto recente da plataforma P-35, ainda que enfrentando todos os impactos negativos de uma greve em um serviço tão essencial à habitabilidade e à vida a bordo. Temos clareza que nosso inimigo não é o colega ao lado, que com justiça cobra os seus direitos, mas a ganância das empresas que exploram a mão de obra, buscam o lucro máximo, à custa da prestação de serviços ruins, com número reduzido de profissionais, pagando salários indignos e cortando benefícios.
A luta de todo trabalhador e de toda trabalhadora também é nossa luta.
Diretoria do Sindipetro-NF
Macaé, 11 de setembro de 2024
Confira um histórico de notícias do Sindipetro-NF sobre hotelaria na Bacia de Campos
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- Trabalhadores da hotelaria nas plataformas anunciam greve a partir do próximo dia 9 – 5 de setembro de 2024
- Responda a pesquisa sobre condições de alimentação, higiene e lavanderia a bordo – 2 de julho de 2024
- A situação da Hotelaria nas plataformas esteve em pauta na reunião entre Sinthop, Sindipetro-NF e Petrobrás – 20 de junho de 2024
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- Sindicatos e trabalhadores se unem contra problemas na hotelaria da Bacia de Campos – 11 de junho de 2024
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